Sobre os sacrifícios que Dilma pode e deve realizar, por Fábio de Oliveira Ribeiro |
Economia | |||
Tuesday, 10 November 2015 00:39 | |||
Lula poderia ter colocado um ponto final na carreira de FHC e explodido o PSDB ordenando um pente fino nas ações governamentais dele e de seus aliados, mas não fez isto. Talvez o petista tenha intuído que ao atacar o adversário poderia fortalecê-lo. Talvez fosse ingenuo o suficiente para acreditar que poderia contar com o apoio eventual da bancada do PSDB na Câmara dos Deputados. Tendo vivenciado o que ocorreu com Jânio Quadros, talvez Lula tenha concluído que não deveria enfiar a faca até o cabo no barriga do adversário. Quem costuma fazer isto ica exposto à máxima fragilidade político-partidária no momento de maior necessidade de apoio (foi o que ocorreu quando Jânio Quadros renunciou acreditando que poderia voltar ao poder fortalecido). O fato é que em nome de um suposto republicanismo, Lula evitou o revanchismo ou não quis transformar FHC numa vítima sacrificial. Numa República, contudo, ninguém deveria ficar acima da Lei. E o fato de FHC e sua quadrilha ter sido poupada é a verdadeira gênese da crise que atormenta o governo Dilma Rousseff. Ela não pode atingir FHC, que enfia a faca na barriga de Dilma Rousseff porque sabe ser beneficiário da prescrição por falta de ação estatal oportuna contra os crimes cometidos no governo dele. A vítima sacrificial poupada por Lula se esforça agora para sacrificar a herdeira política do ex-presidente. Se Dilma Rousseff cair, o pais mergulhará no caos e até mesmo as pretensões eleitorais de Lula serão comprometidas. Isto se ele mesmo não for totalmente enredado pelas conspirações jornalístico-policiais que tem sido tecidas para prendê-lo impedindo sua candidatura. Sujar a ficha de Lula seria a maior vingança de FHC, cuja ficha ficou limpa justamente porque não foi perseguido depois que passou a faixa para ele. Política e religião são fenômenos diferentes e, paradoxalmente, semelhantes. Os religiosos olham para o passado, os políticos olham para o futuro, mas ambos atuam no presente para organizar, suavizar e pacificar a vida em sociedade. Política e religião são, portanto, os dois espaços criados pelos homens para permitir que eles convivam uns com os outros de maneira estável a fim de que possam criar seus filhos e, eventualmente, desfrutar seus netos. Muito embora o sagrado (campo da religião) e o profano (campo da política) estejam separados, na Cidade Antiga ambos caminhavam juntos. A autoridade do líder que deveria comandar homens e não poderia obter a sujeição de todos mediante violência, nascia tanto da política quanto da religião. Por isto, não era incomum a mesma pessoa transitar entre os dois campos. Júlio Caesar foi eleito Consul de Roma, mas antes disto ele foi Flamen Dialis https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A2mine_dial. Aquele que um dia foi encarregado de organizar as festas e os sacrifícios em honra de Júpiter organizaria exércitos e sacrificaria milhares de homens durante a Guerra da Gália e na Guerra Civil. Não causa estranhamento o assassinato de Júlio Caesar no Senado ter se revestido de um caráter expiatório e, portanto, sacrificial e religioso. “...como bem mostrou R. Smith, o puro e o impuro não são contrários que se excluem, mas dois aspectos da mesma realidade religiosa. As forças religiosas se caracterizam por sua intensidade, sua importância, sua dignidade e por conseguinte são separadas. É isso o que as constitui, mas o sentido no qual são exercidas não é necessariamente predeterminado por sua natureza. Elas podem ser exercidas tanto para o bem quanto para o mal, o que depende das circunstâncias, dos ritos empregados etc. Assim se explica como o mesmo mecanismo pode satisfazer necessidades religiosas extremamente diferentes. Ele tem a mesma ambiguidade das próprias forças religiosas. É apto ao bem e ao mal; a vítima representa tanto a morte quanto a vida, a doença e a saúde, o pecado e o mérito, a falsidade e a verdade. Ela é o meio de concentração do religioso: exprime-o, encarna-o, transporta-o. É agindo sobre ela que se age sobre ele, que se dirige o religioso, seja atraindo-o e absorvendo-o, seja expulsando-o e eliminando-o. E explica-se do mesmo modo que, por procedimentos apropriados, essas duas formas da religiosidade possam se transformar uma na outra e que, em alguns casos, ritos que parecem opostos sejam às vezes quase indiscerníveis.” (Sobre o Sacrifício, Marcel Mauss e Henri Hubert, editora Cosacnaify, 2013, São Paulo, p. 66-67) José Dirceu foi condenado sem provas, porque não provou sua inocência, com base na literatura e sob a influência evidente de uma teoria jurídica alemã que, além de ter sido distorcida, não se ajusta muito bem aos princípios constitucionais do direito penal e do direito processual penal. Nenhum tucano foi julgado da mesma forma que ele. Portanto, podemos concluir que José Dirceu foi sacrificado http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/jose-dirceu-a-vit.... O sucesso do sacrifício de José Dirceu parece ter animado os mestres que movimentam a cordinhas da oposição. Eles se empenham agora para sacrificar Dilma Rousseff e Lula. Sacrificariam a própria democracia se tivessem maioria no STF. No Brasil, política e religião voltaram a caminhar juntas. Mas a finalidade desta estranha reunião do sagrado e do profano promovida pelo PSDB (um partido que se diz laico) não é unir o país e sim provocar o oposto. Aqueles que sacrificam os líderes do povo querem, na verdade, fazer com que o povo sacrifique a si mesmo numa Guerra Civil. Talvez esteja na hora de Dilma Rousseff retirar as luvas e exercer o poder em que está investida. Nunca antes no Brasil a vida de tantos e a preservação da unidade territorial do país dependeu do sacrifício de algumas aves agourentas e envelhecidas.
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Last Updated on Tuesday, 10 November 2015 03:31 |
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