Ainda teremos tempo de deter o caos? Por Arnóbio Rocha |
Comportamento | |||
Friday, 31 July 2015 01:41 | |||
O Fascismo se instaura lentamente, ganhando corpo e almas, aos poucos, não é uma coisa imediata, é resultado de um estado de coisas. Mais precisamente, ele explode e se torna força social viva e visível nas crises econômicas, pois essas elevam o nível de frustrações pessoais e as ambições (pessoais ou coletivas) deixam de ser satisfeitas ou ficam distantes de serem atendidas. A sobrevivência ou a selvageria por ela, vai elevando aos pícaros as nossas mazelas, coletivamente (na sociedade) não se enxerga qualquer saída, o passo natural é crescer nossa revolta e nosso sentimento beligerante se acentua. Wilhelm Reich, médico, psicanalista e cientista social, talvez tenha sido que mais compreendeu a gênese e desenvolvimento da “mente fascista”. Reich tem uma definição do Fascismo que, segundo ele, é “a expressão da estrutura irracional do caráter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujos impulsos têm sido reprimidos há milênios”. Enquanto nossas satisfações pessoais estão sendo atendidas, o “monstro” vai sendo relevado, escondido ou adormecido. Leio constantemente nas redes sociais algo como se o fascismo estivesse para ser instalado no Brasil, aqui entendido como regime político ditatorial de extrema-direita. Tenho uma discordância quanto à questão estrutural da instalação, mas, ao mesmo tempo, afirmo que nós já vivemos psicologicamente e socialmente o fascismo, que, por enquanto, não se instaurou como regime político de poder. As relevantes manifestações de jundo de 2013 foram um ensaio coletivo, uma catarse do que estava por vir , aliás em julho de 2013, ainda no calor das “massas”, publiquei um artigo sobre o tema “A Psicologia de Massas do Fascimo – Ou, o Gigante Acordou”, ali já alertava que “o fenômeno do Fascismo, de como surge e suas principais características, em particular a catarse de massas, de movimento contra tudo e todos, que esconde um profundo reacionarismo político”. O resultado eleitoral posterior foi desigual e incompleto em relação aos desejos do movimento de junho de 2013, se por um lado conseguiu eleger majoritariamente o pior congresso nacional em décadas. Em outra mão e, contraditoriamente, Dilma Rousseff se reelegeu, houve uma sobrevida do PT, o que parecia impossível diante do que se gestou e do que se colheu no parlamento. A conta não bate, a leva reacionária não se fez ouvir por completo, então passa a questionar e não aceitar o que saiu das urnas, este é o embate. A contradição se deu na estrutura econômica, incerta, mas o avanço da crise 2.0 no Brasil passou a cobrar a fatura explicitamente, exigindo a ruptura irracional, através de qualquer golpe possível. Quando o processo de fascistização psicológico e social se torna majoritário e bestial, a comoção fascista justifica e legaliza qualquer ação, ainda que racionalmente seja repudiável, que em sã consciência jamais se tentaria esse caminho, como, por exemplo, o rompimento com a democracia, ainda que ela se apresente como democracia formal. Esse é o nosso drama, potencializado pelas redes sociais, o embrutecimento parece completo, não se consegue mais qualquer debate honesto e mesmo os mais simples, a radicalização em forma de adjetivos pejorativos, sem base ou consistência, venceu a argumentação substantiva. Avança escandalosamente pela sociedade a ignorância, o “baixo clero” e o desvalor humano, presa fácil nos momentos de crise e torpor. Ainda segundo, Reich, “O fascismo só pode ser vencido se for enfrentado de modo objetivo e prático, com um conhecimento bem fundamentado dos problemas da vida.” Basta lembrar que a culta e racional sociedade alemã se deixou levar pelo fascismo, as razões de fundo são brilhantemente analisadas por Reich, o que demonstra que não há nada de novo ou inovador na revolta do “Gigante” dos “bem informados”, “plugados”, as questões são bem mais irracionais e perversas, mas é preciso ler o Todo e entender as Partes do problema. Portanto não adianta vociferar de forma estéril contra queda de governo, fim da democracia, pois o gene do mal já deu cria, a sociedade está muito doente, sem remédio aparente para curá-la. Aqui não se trata de falar que escrevi antes, ou que avisei etc. Isso não vale nada, mas sim saber por qual razão não temos diálogo e repercussão diante da tragédia que ameaça a todos nós. Ainda teremos tempo de deter o caos? Publicado originalmente no site Política, Economia e Cultura Leituras e Reflexões
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