Sustentabilidade Líquida na Contemporaneidade. Por Lauriane Moreira |
Comportamento | |||
Saturday, 03 September 2016 19:17 | |||
Em tempos remotos, era possível notar uma postura de respeito e comunhão, e até submissão, do homem com a natureza, quando as explicações para os fenômenos que ocorriam se davam ao poder de uma força maior. Hodiernamente, nota-se uma postura antropocêntrica e, conforme Bonazina et. al. (s/d) “economicista-predatória, em que o ser humano coloca-se como centro do Universo”. Por conseguinte, esta mudança na relação de homem-natureza ocasionou em uma ruptura no processo de subjetividade do ser humano, ao pensarmos na Ecopsicologia como norteador da análise do homem como parte fundamental e ativa na natureza, e esta como unidade constituinte da identidade do homem. Tal como elucida Bonazina et. al. (s/d), A Ecopsicologia surge como um ramo da Ciência que parte de uma análise da subjetividade humana, das relações que caracterizam o convívio social e das relações do homem com o meio ambiente, para a construção de uma “nova psicologia do meio ambiente, que nos ajude a entender o que devemos fazer e continuar fazendo, individual e coletivamente, de forma que possamos mudar nossa conduta, local e global, para salvarmos a vida do planeta”. A Ecopsicologia é, pois interdisciplinar e transdisciplinar, na medida em que perpassa por outras ciências – Ecologia, Psicologia, Sustentabilidade e, através do pensamento crítico, vai além da disciplinaridade para compreender os fenômenos culturais, sociais e econômicos criados pelo contexto de onde provêm (CARVALHO, 2013). Não é possível falar da ruptura homem-natureza, sem citar as rupturas que acometem as relações sociais e do homem com sua subjetividade. Neste ínterim, portanto, vale citar Guatarri quando nos propõe a ecosofia que articula três princípios ecológicos, “do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana” (2001, p. 8) que se produzem e são produzidos em um mesmo processo. Em outra instância, Bonazina et. al. (s/d) nos confere estes três conceitos, pressupondo a re-significação dos atuais valores e percepções que nos permitam alcançar o desenvolvimento sustentável, tal como preconiza Metzner “[…] Nós somos parte da natureza, estamos na Terra, não sobre ela” (apud BONAZINA et. al., s/d, grifo nosso). E se, como apontou Bauman, a sociedade é líquido-moderna e é vivida constantemente em condições de incerteza, “o problema é apegar-se firmemente à única identidade disponível e manter juntos seus pedaços e partes” (BAUMAN, 2007, p. 13). O outro registro são as relações sociais, as circunstâncias que permitem ao indivíduo desenvolver-se como sujeito. “[…] a sociedade não tem substância própria, precisa dos indivíduos para ser o que é, e estes, precisam da sociedade para existir” (BONAZINA et. al., s/d, p. 4). É no meio social que o indivíduo se constitui, e na constituição das subjetividades são construídos os valores sociais e as relações de poder em um momento de produção capitalística onde as inovações tecnológicas têm apresentado inúmeros impactos no meio ambiente, podendo ser positivos ou negativos, e neste momento mostra-se o registro ecológico frisado por Guatarri, o meio ambiente. A subjetividade é, portanto, as formas de se produzir enquanto sujeito nas relações do eu com o outro, com as experiências de vida e no contato com o ambiente. Trazendo ao nosso modelo econômico vigente, “o capitalismo redimensionou a esfera da subjetividade, introduzindo novas formas de pensar, agir e ser, padronizando os desejos e ações humanas” (POSSOLLI, s/d, p. 130), na medida em que a subjetividade é moldada segundo a semiótica dominante, neste caso, o capitalismo. É nesta lógica dominante, aliada aos recursos tecnológicos e midiáticos do mundo pós-moderno que se produzem e mantém o status quo das subjetividades capitalísticas. Estas subjetividades dominantes, por sua vez, nos denotam ao conceito explicitado anteriormente de consciência sustentável líquida, aquela que não se mantém, e que se produz na relação com o exterior. Pode-se dizer, então, que sustentabilidade está na moda? É um meio de se atingir um status de solidário e redimir-se de sua culpa quanto aos atos contra a natureza? Poli e Hazan (2013, p. 391) explicitam que, Essa visão inocente e singela da sustentabilidade serve à superficialidade do homem contemporâneo e apazigua a leve lembrança que carrega dentro de si de que deve ser solidário ao outro, de que deve respeitar o espaço que ocupa e que o rodeia, além de todos os elementos que compõem o seu habitat. Evidencia-se o discurso midiático que promove a sustentabilidade ideológica como forma de “vender seu produto”. As novas formas de ser e de viver na contemporaneidade produzem e são produzidas pelo consumo desenfreado, desencadeando a dita sociedade líquido-moderna produtora de novas subjetividades que tem como principal objetivo a remoção do lixo que, segundo Bauman (2001, p. 17) “entre as indústrias da sociedade de consumo, a de produção de lixo é a mais sólida e imune a crises”. NOTA: O presente texto “Sustentabilidade Líquida na Contemporaneidade” é um recorte do projeto de extensão Sustentabilidade e Resíduos Sólidos que esteve em andamento no ano de 2014 no Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), coordenado pela professora Esp. Lauriane Moreira, do curso de Psicologia. O projeto, como objetivo geral, visa à conscientização dos acadêmicos através de ações sustentáveis, tal como a coleta seletiva e a reciclagem de resíduos sólidos. O texto é uma ação, dentre várias, que visa atingir a comunidade acadêmica de modo geral, e aos demais públicos visitantes do Portal (En)Cena, através da sensibilização operada pelas ações e abrangência de conhecimentos acerca da sustentabilidade ambiental e reutilização dos resíduos sólidos. Artigo publicado originalmente em http://encenasaudemental.net/comportamento/insight/sustentabilidade-liquida-na-contemporaneidade/
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