A menininha e o bicho-papão. Por Fernando Brito |
Comportamento | |||
Tuesday, 27 February 2018 06:12 | |||
Não sei seu nome, mas não importa. Mesmo pequeninos na imagem, seus olhos contam tudo, falam da história de três anos de vida numa quase ruína, num quase escombro, o único castelo de princesa que já conheceu. Menininha, como fazer para não ouvir, ao te ver, os versos do Vinícius… Menininha, que graça é você/Uma coisinha assim/Começando a viver/Fique assim, meu amor/Sem crescer/Porque o mundo é ruim, é ruim e você/Vai sofrer de repente/Uma desilusão/Porque a vida é somente/Teu bicho-papão O bicho-papão vem assim, sem reparar que se veste de verde – que é a cor com que se desenha os monstros -, que usa máscara para que você não veja que são gente fantasiada, os clóvis, os bate-bola de um carnaval mórbido e tardio, que percorre as vielas de teu mundo, mundo da favela, onde você teima em brotar, como uma flor sem nome, mas com esse rosa – e rosa-choque! – para gente que não mais se choca. Não, menina, a cena que te assusta não será revivida em divãs, não será tema de séries “cult”, não terá um pintor que a retrate, que nem mesmo valerá uma crônica senão esta, pobre e limitada, que é só o que posso te dar. Posso apenas te prometer, talvez falsamente, que há gente que ainda tem escrito no peito o que você tem: love. Em inglês, português, em árabe, em francês , em sânscrito, em hebreu, em qualquer língua do esperanto que é a humanidade. E que não tem, nem nunca terá medo do bicho-papão que faça te abandonar, sozinha, a torcer as mãozinhas. PS. A foto vai sem crédito porque não o achei, e ao autor anônimo aplaudo a delicadeza. Artigo publicado originalmente em http://www.tijolaco.com.br/blog/menininha-e-o-bicho-papao/
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