Um casamento negro por Dimitri Ganzelevitch |
Comportamento | |||
Sunday, 11 March 2012 16:20 | |||
![]() Descer o elevador Lacerda e andar até a igreja da Conceição da Praia foi decisão movida pelo irrecusável convite do velho amigo Fernando Conceição, com quem participo de incômodo espírito polêmico. O irrequieto jornalista ia casar – mieux vaut tard que jamais - com a esguia colega Danila. Não esperava eu ser um dos raros brancos da cerimônia. Mergulhei entre os convidados com a gostosa sensação de feliz privilegiado. Na França o politicamente correto é evitar a palavra “noir”, preferindo “black”, como se o anglicismo fosse amenizar a definição. Hipocrisia que sempre recusei. Quem não se lembra da famosa resposta daquela senhora negra a Marta Suplicy? Pois então, de negros estamos falando.
E lá estava eu, sentado na última fila do rico monumento trazido de Portugal e aqui montado, pedra por pedra, por escravos, cujos descendentes, vestidos com alegre capricho, hoje, aqui, casavam com orquestra e coro. Casamento é sempre emocionante... para os casando. Mas naquela noite confesso ter me emocionado ao considerar o contexto histórico. Na basílica estava uma parte significativa da intelectualidade baiana, negros que tanto contribuem para a evolução da sociedade. Minha vizinha, uma sorridente senhora de cabelo rastafári caprichado, grande senso de humor, é doutora em ciências políticas. Aquela bela, deslumbrante mãe de família é professora de inglês e português no Rio Vermelho. Mais adiante está minha amiga Alaíde do Feijão, a quituteira... Quanto caminho desde a Árvore do Esquecimento!
Artigo publicado originalmente em
http://dimitriganzelevitch.blogspot.com/search/label/A%20TARDE%20publicou
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Last Updated on Tuesday, 27 March 2012 22:39 |
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