Líder rebate críticas: “O PT não apoiou golpista algum”. Por Tereza Cruvinel |
Cidadania | |||
Saturday, 16 July 2016 15:58 | |||
Faltou unidade, mas mesmo unida, a esquerda não tinha a menor chance de levar um candidato seu ao segundo turno. Poderia ter levado o peemedebista dissidente Marcelo de Castro, mas ele foi atropelado pela artilharia palaciana. Uma avaliação correta exige que se distinga, para começar, as posições adotadas por PT, PC do B, Rede e PSOL nos dois turnos. O mais criticado, naturalmente, vem sendo o PT, inclusive por lideranças do partido, como o senador Lindbergh Farias. O líder na Câmara, Afonso Florence, diz que há um misto de desinformação com erros de avaliação nestas críticas. “O PT não apoiou golpista algum. Apoiamos o Marcelo de Castro no primeiro turno. Ele não é golpista, é anti-Cunha e anti-Temer, mas foi derrotado pelo trator palaciano. No segundo turno, liberamos a bancada. Muitos de fato votaram no candidato Rodrigo Maia por entender que a prioridade era derrotar Cunha e o Centrão. Outros foram embora, deixando de votar, e alguns votaram em branco. O resto é confusão ou desinformação”, diz Florence, justificando sobretudo o apoio a Castro. - No primeiro turno não apoiamos candidato golpista algum. Marcelo de Castro é um deputado progressista, um aliado do PT desde antes de chegarmos ao governo. Foi ministro de Dilma, votou contra o golpe, é anti-Cunha e contra a agenda neo-liberal de Temer. Inclusive contra a mudança no pré-sal, a emenda do teto com gasto público e a desvinculação de despesas com educação e saúde. Ele não tem culpa de seu partido ter optado pelo golpe. Nós o apoiamos mas o Planalto jogou pesado e o tirou do segundo turno. Esta foi a única decisão tomada e tenho convicção de que foi uma decisão correta, embora ele tenha sido derrotado. No segundo turno, os que votaram em Rodrigo Maia o fizeram não por ser menos pior, mas porque elegeram como prioridade derrotar o Rosso, que tentaria salvar o Cunha. Não creio que Maia fará isso nem que presidirá a Casa atropelando regimento e Constituição, como fazia o Cunha. Este foi o jogo do PT e a verdade é que, entre os quatro partidos da esquerda, cada um fez seu jogo. Até a semana passada, nenhum candidato deste próprio campo havia se apresentado. Foi quando o PT decidiu apoiar Castro, avaliando que ele era o único não golpista e anti-Cunha que poderia, com apoio da esquerda, chegar ao segundo turno. Naquele momento, pela primeira vez nos tempos revoltos atuais, PT e PC do B ficaram em posições distintas. O PC do B, via Aldo Rebelo e Orlando Silva, optou por apoiar Rodrigo Maia já no primeiro turno. Diante do crescimento da candidatura de Marcelo de Castro, o PC do B lançou a anti-candidatura de Orlando Silva para segurar votos de seu partido. O PSOL, simultaneamente, lançou Luiza Erundina, que teve alguns votos do PT. No segundo turno os deputados do PSOL deixaram a Câmara. Veio o segundo turno e a Rede (que apoiara Erundina) também avaliou que Rodrigo Maia oferecia duas vantagens. Não tentaria salvar Cunha e não dirigiria a Casa com a mão de ferro do antecessor. Pouco antes do início da votação, valendo-se de seus vínculos afetivos no PT, do qual saiu este ano, o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) foi à liderança do PT tentar dobrar alguns amigos. Lá estava também Rubens Júnior, do PC do B, argumentando em favor de Maia. A convergência estava se criando. O resto veio no placar. O próprio Rodrigo Maia agradeceu os votos que teve na esquerda. Eles engrossaram a diferença que ele obteve contra Rosso: 285 a 170 votos. O voto da esquerda em Maia teve cálculo político mas não, como dizem alguns dos críticos, barganhas miúdas em troca de vantagens corporativas ou quetais. O cálculo não é claramente explicitado, mas é claro. Se Maia acelerar a cassação de Cunha, mais rapidamente ele será preso. Mais rapidamente poderá tornar-se delator e talvez produzir a única bala de prata que pode derrotar o golpe: uma denúncia grave contra Michel Temer. Quem está fora do Congresso não pode também avaliar aspectos da luta parlamentar, que é só uma parte da luta política mas não pode ser negligenciada. A negligência parlamentar do PT contribuiu muito para o golpe. Foi sob um presidente da Câmara ditador, depois dos erros cometidos na sucessão de Henrique Alves, que o governo Dilma e o PT passaram a sofrer derrotas seguidas. Cunha ligava o rolo compressor e passava sobre todos que se opunham a uma agenda que ele mesmo elaborada. Rodrigo Maia é governista e aliado de Temer. “Temos clareza de que ele vai tocar a agenda neo-liberal, que tentará unificar a base de Temer para aprovar a agenda de retrocessos sociais e econômicos. Mas ele não será uma réplica de Cunha. Se a civilidade política e o respeito à minoria voltarem a frequentar o plenário, vamos lutar em condições melhores nas duras batalhas que temos pela frente: a resistência ao golpe, o combate ao desmonte do legado de nossos governos e à agenda do retrocesso que Temer representa” – diz Florence. Artigo publicado originalmente em http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/244030/L%C3%ADder-rebate-cr%C3%ADticas-%E2%80%9CO-PT-n%C3%A3o-apoiou-golpista-algum%E2%80%9D.htm
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