É possível analisar os resultados das eleições em dois níveis: micro e macroscópico. Por Pablo Vilaça |
Cidadania | |||
Monday, 03 October 2016 23:21 | |||
Em nível microscópico, o fato é que eleger prefeitos e vereadores é algo que envolve elementos locais muito particulares, tornando nomes específicos mais importantes do que seus partidos em certos aspectos. É isto que explica aparentes discrepâncias como Dória ser eleito no 1o. turno, mas Suplicy alcançar recorde de votação ou Freixo ir para o segundo turno, mas um Bolsonaro ser o vereador mais votado. Em Belo Horizonte, por exemplo, os nomes escolhidos pela esquerda eram desconhecidos por grande parte da população, ao passo que João Leite contava com o recall de eleições passadas à prefeitura e Kalil... bom, foi presidente de um dos dois principais clubes de futebol do estado. O resultado teria sido diferente caso, digamos, Patrus houvesse entrado na disputa? Ou se Jô Moraes houvesse encabeçado sua chapa? Agora é difícil dizer, mas certamente não seria a mesma eleição. Em outras palavras: há outros fatores na queda da votação da esquerda além de uma simples onda conservadora. Já em uma análise macroscópica, o retrato é apenas desastroso. A esquerda perdeu boa parcela de influência na política nacional, que passa a ser dominada por setores não apenas ideologicamente conservadores, mas também pesadamente influenciados pelos evangélicos. O que houve, afinal? Nada de surpreendente: além da demonização sistemática da esquerda por parte da mídia nos últimos dois anos, o judiciário fez sua parte ao executar ações espetaculosas nas duas semanas que antecederam a votação e que obviamente visavam influenciar o resultado. Não é à toa que, apenas um dia após o pleito, procuradores arquivaram investigação sobre o patrimônio de Palocci, declarando não ter visto sinal de crescimento desproprocional - um parecer feito QUATRO DIAS ANTES de sua prisão, mas que não a impediu e que tampouco foi divulgado até que os votos no Brasil inteiro fossem contabilizados. Além disso, a esquerda se desmobilizou, seja por cansaço, descrença ou ambos. Enquanto muitos abriam mão até mesmo de comparecer às urnas, a extrema-direita ia na direção oposta, conseguindo até mesmo eleger nada menos do que oito membros do MBL. A verdade é que quando a esquerda se omite, a direita toma conta de tudo. Parabéns para eles, vaias para nós. Sim, Dória já deixou claro que destruirá boa parte dos feitos de Haddad e podemos criticá-lo por isso, mas - ao contrário de Temer, o Pequeno - ele conquistou a prefeitura de forma legítima, no voto. Suas propostas foram aprovadas pelos paulistas. Democracia é isso. (Não vou repetir a histeria da direita ao gritar que as urnas foram fraudadas. Aliás, onde estão as acusações agora? Só há fraude quando a direita perde?) Agora é lamber as feridas, apoiar enfaticamente os candidatos restantes da esquerda (como Freixo no Rio e João Paulo em Recife) e tentar aprender. O quadro político no Brasil mudou radicalmente nestes dois últimos anos; pensar com imediatismo só garantirá outras derrotas. É fundamental que a esquerda comece a pensar três ciclos eleitorais adiante: preparar-se para 2018 e 2020, claro, mas ter como meta realista um crescimento significativo em 2022. Sim, chegamos a este ponto. 2022. Negação não servirá de nada - e muito menos brigas internas. Se a esquerda não abraçar um projeto de unidade, com sacrifícios de vaidades pessoais e investimento num pensamento maior, seguiremos perdendo. A mídia já deixou claro que suas prioridades residem em garantir verbas publicitárias e manutenção de privilégios, mesmo que irresponsavelmente contribuam, no processo, para ruir a crença em todo o sistema político e propiciar o crescimento da extrema-direita e do fascismo no país. Com isso, a responsabilidade da esquerda se torna ainda maior: ou nos organizamos ou abriremos espaço para o fascismo absoluto representado por parte dos candidatos evangélicos e pela família Bolsonaro. É simples - e amedrontador - assim.
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