Ocupação de escolas não vai acabar se governo não admitir autoritarismo. Por Janio de Freitas |
Cidadania | |||
Sunday, 06 November 2016 16:46 | |||
Novas ações do Movimento de Trabalhadores Sem-Terra entram em processo de gestação, que recebeu agora o estímulo de invasões policiais e prisões em áreas sem conflito. O Movimento dos Sem-Teto fará mais comprovações de que a ferocidade policial, outra vez aplicada em desocupação no centro de São Paulo, incentiva-o em vez de o intimidar. A intenção do governo, agora silenciada mas não abandonada, de rever demarcações de reservas indígenas (chegará à revisão também de áreas de proteção ambiental), atenderá aos interesses fundiários representados pelo senador Ronaldo Caiado, mas já são motivo de planos de resistência. Uma dedução possível é a de que ações conjuntas, e até mesmo uma conjugação mais geral, sejam ideias sob exame. Vê-se que é uma situação complexa. Muito mais a de fora da política do que a de seu interior alienado. A contribuição do governador Geraldo Alckmin para tal situação é inequívoca. A cada episódio de sua PM ditatorialesca, Alckmin comparece com suas falazinhas de bom moço, cada sílaba bem escandida, a fisionomia neutra, ou indiferente. E nenhuma das ações de sua obrigação governamental. A escolha dos seus secretários de Segurança é significativa. O atual Magino Alves, que só faz gaguejar o fugidio "vamos investigar" as ações truculentas e ilegais da PM; o anterior, Alexandre Moraes, está por dentro dos ataques a jato contra petistas, mas por fora do que a sua polícia apronta. E ele depois acoberta. A desocupação policial de escola sem autorização judicial foi arbitrariedade dupla: usurpação de poder do Judiciário e ação policial indevida. O ataque da PM a uma trupe de teatro financiada pelo governo é uma violência indecente, tanto quanto a cobertura recebida do secretário de Segurança e, portanto, do governador. Na desocupação de um prédio, Marlene Bergamo, que está entre os melhores repórteres-fotográficos do país, saiu com um ferimento no abdome que é como uma cicatriz moral do governo que a atacou. Tudo isso na São Paulo de um Alckmin desejoso de ocupar a Presidência. Para quê? Um governo federal que só pensa em impor um teto arbitrário e duradouro aos gastos do país carente não precisa, além dessas, de mais palavras sobre sua responsabilidade pelo horizonte que escurece. Mas, é verdade, não se poderia esperar outra obra de Temer e do grupo de que, fraco, se deixou cercar. FALAS 1- Ao lançar Fernando Henrique a uma candidatura para eleição presidencial indireta, e direta só em último caso, Xico Graziano omitiu, por bondoso esquecimento, o motivo que lhe tirou o cargo de secretário da Presidência de Fernando Henrique. Sério, ele desconfiou das relações do diplomata encarregado dos salamaleques palacianos. E descobriu que o embaixador João Batista dos Santos estava articulado com um representante da Raytheon, para destinar a essa multinacional a construção do sistema de vigilância da Amazônia, o Sivam. Expôs a descoberta a quem deveria ouvi-la. Nada, nenhuma providência. A transação continuava. Graziano deu um jeito de torná-la pública. Aí Fernando Henrique tomou não uma, porém duas providências: demitiu Graziano e premiou o diplomata lobista com a embaixada, na Itália, junto à FAO. Pouco depois, afastada à força a concorrente francesa, entregou o Sivam à Raytheon e telefonou ao então presidente Clinton, como contou, para informá-lo de que atendera o interesse do governo norte-americano. 2- O lançamento feito por Graziano, em artigo na Folha, teve farta repercussão. Indagado, disse "O Globo", se aceitaria a candidatura, "FH, 85 anos, foi rápido: 'Não. A Presidência abrevia a morte'." Ah, essa briga com as palavras, tão longa, não cessa. O que a Presidência pode abreviar não é a morte, é a vida. À morte, poderia antecipá-la. Artigo publicado origignalmente em http://m.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2016/11/1829731-ocupacao-de-escolas-nao-vai-acabar-se-governo-nao-admitir-autoritarismo.shtml?cmpid=compfb
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