A ineficácia dos movimentos de esquerda e a lição paraguaia. Por Carlos Fernandes |
Cidadania | |||
Sunday, 02 April 2017 08:45 | |||
Óbvio está que os movimentos de esquerda não podem ser acusados de passividade diante o desfecho do golpe e toda a mazela política, econômica e social dele decorrente. Muitas foram as manifestações, os debates públicos, as mobilizações e as resistências. Os sites e blogues progressistas defenderam a democracia heroicamente. As redes sociais foram incansáveis em denunciar a tragédia anunciada dessa aventura antidemocrática. Porém, a despeito de tudo isso, o golpe foi concretizado e sofremos todos, agora, as consequências desastrosas que tanto alertamos. A grande questão que fica é: até que ponto podemos ficar isentos de culpa, uma vez que todos os nossos esforços até aqui depreendidos simplesmente não foram suficientes para que restasse preservada a soberania desse país? Para mim, pelo menos, já está claro que muito — e de diversas formas — ainda há de ser feito. A liberdade, o respeito, a igualdade e a justiça social jamais, em momento algum da história, foram alcançados sem luta. E somente com ela, a luta, nos será devolvido o sagrado poder de decidirmos o nosso próprio futuro a partir da expressa e irrestrita vontade do povo brasileiro por meio do mais poderoso e eficiente instrumento da democracia: o voto. As manifestações desse 31 de março, no que pese toda a sua grandeza, ficou muito aquém do que poderia ter sido. É possível que tenhamos perdido uma grande oportunidade de mostrarmos, de maneira efetiva, que podemos, sim, tomarmos de volta o que nos foi subtraído. Nenhuma outra data teria maior simbologia para darmos os primeiros passos de volta à normalidade democrática. O aniversário do golpe militar de 64, aliado aos acontecimentos do dia, deveria ter marcado o ritmo de todo uma marcha. O novo recorde de desempregados divulgado pelo IBGE (13,5 milhões de almas errantes), a desmoralizante taxa de rejeição e desconfiança ao governo Temer demonstrada pelo Ibope e, principalmente, a sanção presidencial ao maior atentado aos direitos dos trabalhadores já visto no Brasil, deveriam ter causado uma verdadeira inundação de revolta e indignação em todas as partes desse país. Muito longe disso, ficou no mínimo curiosa a fala do líder do MTST, Guilherme Boulos, na avenida Paulista. Disse ele: “Este ato faz parte de uma série que teremos nos próximos dias até a greve geral em 28 de abril. Se até lá a Reforma da Previdência for aprovada pelo governo golpista de Temer, teremos que invadir o Congresso”. Se for aprovada!!!??? Da mesma forma que permitimos — sim, permitimos — embasbacados a aprovação e sanção do esfacelamento dos direitos trabalhistas, iremos permitir a aprovação da “reforma” da Previdência para só após invadirmos o Congresso? O governo Temer cambaleia inebriado pela sua própria incompetência e podridão. Mas, uma vez que temos uma justiça comprada e acovardada além de um Congresso que dispensa apresentações, não cairá se ficarmos presos a esse tipo de ação reativa. Não podemos esperar a próxima atrocidade a ser praticada por esse governo sobre nossos direitos para termos a coragem de fazer o que há muito já deveria ter sido feito. Nisso, o nosso irmão e vizinho latinoamericano, o Paraguai, nos deu uma inspiradora lição. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-ineficacia-dos-movimentos-de-esquerda-e-a-licao-paraguaia-por-carlos-fernandes/
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