Livro de juristas sobre sentença de Moro esgota no lançamento e imprensa ignora a obra. Por Joaquim de Carvalho |
Cidadania | |||
Tuesday, 15 August 2017 05:40 | |||
O evento foi ontem à noite, a fila começava no saguão da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e se estendia pela rua. O auditório tinha espaço para 400 pessoas, mas, no ato que se seguiu ao lançamento do livro, havia pelo menos duas mil, e tiveram que arrumar um telão para que todos assistissem. No estoque levado para o lançamento no Rio, não sobrou um exemplar para ser vendido. Mas quem procurar nos jornais não encontrará quase nada sobre o evento nem sobre o livro. A obra foi escrita por personalidades importantes do direito, quase todas fontes da imprensa em casos variados, mas foi anunciado, em notas minúsculas da imprensa, como um ato contra o juiz Sérgio Moro. A coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, qualificou o livro assim: “obra foi elaborada sob coordenação da namorada de Chico Buarque, Carol Proner, e outros professores de Direito, como Gisele Cittadino, João Ricardo Dornelles e Gisele Ricobom”. Carol Proner é professora titular do Departamento de Direito do Estado da UFRJ, com dezenove orientações de mestrado, quatro de doutorado e publicações relevantes na área de direito internacional e direitos humanos no currículo, mas, na notícia do lançamento do livro, foi apresentada como namorada do Chico Buarque… Ela e os colegas do mundo acadêmico tiveram a ideia de analisar a sentença de Moro e convidaram outros profissionais, com um nível de aceitação poucas vezes visto em iniciativas desse tipo. Ninguém escreveu para receber por direito autoral — que, se houver, no rateio, será insignificante, já que, além do número elevado de autores, o preço de capa — R$ 30 para estudantes, R$ 50 para os demais, não vai além da cobertura dos custos. Comentários a uma sentença anunciada é o resultado do incômodo que pensadores e operadores do direito com o papel do Judiciário no movimento político que resultou na deposição de uma presidente eleita e ameaça agora interditar politicamente uma liderança popular. É, de fato, um ato político, mas não um ato de políticos. Pode ser um marco no estudo deste tempo, em que o Judiciário foi instrumentalizado politicamente, numa aliança com a mídia. O resultado dessa aliança é Temer, a redução de direitos sociais e ameaça de distorção, ainda maior, do poder representativo. Entende-se por que a imprensa corporativa procura esconder o livro: o foco sobre a obra diminui a figura de herói de Moro. E Moro menor desmonta a farsa de que o impeachment livrou o Brasil de uma quadrilha de ladrões. É por isso que o livro é apresentado como o resultado do trabalho na namorada do Chico Buarque. A imprensa tenta colocar no rodapé da história um trabalho que tem dimensão maior: é parte da narrativa deste tempo sombrio da nossa história. ![]() .x.x.x. PS: O livro será lançado na PUC de São Paulo, segunda-feira, a partir das 18h30, seguido de debate com Álvaro Luiz Travassos de Azevedo Gonzaga, Celso Antônio Bandeira de Mello, José Eduardo Martins Cardozo, Pedro Serrano e Weida Zancaner. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/livro-de-juristas-sobresentenca-de-moro-esgota-no-lancamento-e-imprensa-ignora-obra-por-joaquim-de-cavalho/
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