Não houve momento mais rock’n’roll no Rock in Rio que a índia no palco de Alicia Keys. Por Cassio Oliveira |
Cidadania | |||
Tuesday, 19 September 2017 07:31 | |||
De resto, geralmente um grupo de atletas limitados ocupa-se em atrapalhar o adversário. Se bem treinada, a estratégia costuma render empates ou vitórias magras. E foi assim o primeiro final de semana do Rock in Rio: poucos craques, alguns pernas-de-pau que não chegaram a comprometer, e uma sensação de, mesmo que ninguém tenha perdido, não há motivos para se comemorar goleada. Primeiro dia correto e sem brilho, marcado pela frustração de fãs de Lady Gaga obrigados a se contentar com Maroon 5. No sábado, bons shows. A exceção de Fergie, abatida no palco por problemas técnicos. Destaque para Shawn Mendes, que mostrou maturidade e segurou a bronca de tocar para 100 mil pessoas apesar dos 19 anos. No encerramento, ontem, Alicia Keys e Justin Timberlake deixaram um gosto de “chega logo quinta-feira pra gente ver mais”. E se nenhum artista carimbou marca memorável pela performance, o festival deixou evidente o mal humor da plateia com o momento político do Brasil: o coro mais ouvido nesses primeiros dias veio do público, que não se furtou a entoar o “Fora Temer” a cada oportunidade surgida. Discursos em prol da igualdade de gêneros e na defesa do meio-ambiente mostraram que a caretização do Brasil vai encontrar resistência de uma moçada que, se não chega a tomar as ruas em protestos, parece pronta a brigar pelo que acredita. E, cá entre nós, existe arma melhor contra o conservadorismo exacerbado que a arte? Historicamente, sempre foi assim: para cada onda de retrocessos sociais, uma reação libertária. E vice-versa. Nessa roda gigante, em que os momentos de ápice e queda nos embrulham o estômago, o importante é estar atento aos próximos passos. O momento de iniciar a subida é agora. O vento que fez planar Lobões, Malafaias e afins passou a soprar a nosso favor. Talvez esse seja o grande legado desse primeiro final de semana de Rock in Rio: a moçada está, sim, mais politizada. E deu as costas para o conservadorismo de costumes, ao empunhar a bandeira da igualdade; ao conservadorismo econômico, na defesa do meio-ambiente e da Amazônia pronta a ser leiloada no mercado externo; e ao conservadorismo político, com os apupos dirigidos ao “ilegítimo”. Rock, mais que guitarras distorcidas, é isso: atitude. Particularmente, não vi momento mais rock’n’roll nesses dias que a índia levada ao palco pela Alicia Keys para criticar o extermínio das tribos e terras amazônicas em prol de investimentos externos. Revoluções promovidas pela força costumam ter vida curta. As que vêm da arte sobrevivem. Vida longa ao Rock. Artigo publicado originalmente no Atroz
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