O paradoxo do centro. Por André Singer |
Cidadania | |||
Sunday, 14 January 2018 04:33 | |||
Os que estudam comportamento eleitoral sabem que não convém fazer previsões. Acontecimentos inesperados perto do momento do sufrágio podem alterar tendências consolidadas. Numa situação superinstável como a brasileira, então, a regra de ouro é admitir todas as possibilidades. No entanto, o retrato atual traz indicações de que qualquer associação com o governo Michel Temer tenderá a ser massacrada pelos eleitores em outubro. Os motivos são óbvios. De maneira consciente, o mandato conquistado via Legislativo foi usado para impor um programa pró-mercado de forte conteúdo antipopular. Nizan Guanaes sugeriu o slogan que sintetiza a era Temer: aproveite a sua impopularidade para fazer maldades. Falta, ainda, a reforma da Previdência, mas coerente com o mandamento do publicitário, o presidente tentará que ela desça goela abaixo do Congresso e do país. Ainda mais agora que a Standard&Poor's rebaixou de novo a nota do Brasil. É até possível que, graças à lenta recuperação da economia, o governo ganhe um ou outro ponto nas pesquisas no decorrer do ano. Mas imaginar que possa ser vitorioso na eleição contradiz tudo o que se aprendeu com Sarney, Fernando Henrique e Dilma. De onde provém, portanto, a energia que move o embate particular entre o presidente da Câmara e o ministro da Fazenda? A menos que disponham de surpreendentes e secretas pesquisas, trata-se de jogo com vistas a negociar algo adiante ou concorrer tendo em vista projeto futuro. Como o único capital que os partidos governistas detêm é o tempo de TV, talvez este seja o botim disputado. Diferente é a situação de Alckmin, que se esforçou para ficar numa posição que lhe permita fazer alguma crítica ao governo. O problema, para ele e o PSDB, é que a distância guardada está se mostrando pequena. O eleitorado intui que a fórmula geral dos tucanos é a mesma vigente e que ela não vai gerar emprego e renda na quantidade necessária. O próprio Lula deve estar quebrando a cabeça para descobrir como fazer para cumprir a promessa de retomar os bons tempos. Com o teto dos gastos foi feito uma espécie de contrato de baixo crescimento por 20 anos. Se o centro mostra-se fraco no pleito presidencial, não há sinais de que deixe de controlar boa parte do Congresso em 2019, razão pela qual será difícil passar o referendo revogatório necessário para retomar o ritmo econômico anterior a 2012. Sem desfazer o malfeito, vamos ter duas décadas perdidas. Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo.
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