Brasil, hora de razão, por Ion de Andrade |
Cidadania | |||
Saturday, 08 September 2018 05:25 | |||
País plural e diverso, vivemos numa sociedade que não tem a menor chance de ser homogeneizada à força sob nenhum critério. É claro que o país pode vir a viver tempos de fascismo ou de autoritarismo, como já viveu, já que parece não haver vacina definitiva contra esses males. Mas a experiência universal demonstra que após a volta à normalidade a pluralidade volta a aparecer, comumente de forma ainda mais robusta do que antes. Portanto,se é verdade que querer pela força alinhar uma sociedade à visão de mundo de uma força política pode produzir muito sofrimento, é verdade também que a iniciativa nunca prosperou e sempre foi inútil. Poderíamos enveredar pela ideia de que a violência que se voltou contra Bolsonaro foi em boa parte alimentada pelo seu próprio discurso violento e ameaçador de que não faltam exemplos. Por mais que isso seja verdadeiro, não passa de uma constatação, sem efeito real sobre a realidade e de nada serve, exceto como reafirmação do fato de que essa violência depois de implantada não se curva a ninguém. Obrigamo-nos a constatar, no episódio, mais um exemplo do feitiço sendo mais forte do que o feiticeiro. Muito mais útil, entretanto seria perceber que ninguém é invulnerável e que um doente com uma faca na mão pode provocar danos a qualquer um. A violência é cega e se estiver às soltas, como está agora, pode ferir e matar indistintamente. Temos ido muito longe nessa onda de verdadeira hipnose coletiva que pode nos levar ao fascismo, ao caos ou a uma guerra civil. Ao campo progressista, historicamente, sempre interessou a paz e o diálogo. Esses valores perenes aos quais as sociedades sempre voltam depois das febres autoritárias devem ser cultivados ostensivamente por todos os que enxergam nesse episódio uma oportunidade para a distensão do clima de acirramento de ânimos em que estamos, um ponto final. Diria que o candidato que abraçar essa tese de forma mais afirmativa terá os maiores dividendos eleitorais porque essa ideia voltou a ser, por exaustão, uma aspiração geral da sociedade. Sublinhemos que para isso ninguém precisa capitular ou perder a identidade. Ao contrário o diálogo e a busca do consenso exigem clareza de posições e visão de longo prazo. Ninguém precisa deixar de querer Lula Livre ou que o Judiciário deixe de ser a mãe de todos os privilégios. Não. No meu artigo anterior apontei para a Constituinte como um dos caminhos para a superação da crise de hegemonia em que estamos mergulhados. Os últimos acontecimentos demonstram que a necessidade é incontornável. Há portanto, no escopo do próprio Estado de direito os métodos para a solução dos impasses e divergências que devem selar um novo pacto. Não sejamos ingênuos. Não há saídas que não passem pelo diálogo e pelo aperfeiçoamento da democracia. Isso acontecerá agora ou depois do caos, do fascismo ou da guerra civil. Façamos desse momento grave da vida nacional uma alavanca para tirar o país do atoleiro em que se encontra e o façamos de forma ostensiva! Isso demarcará os campos da barbárie e da civilização isolando a primeira e trará efeitos eleitorais para os que queiram fazer desse episódio um ponto final na escalada de insanidades em que vivemos. Artigo publicado originalmente em https://jornalggn.com.br/blog/ion-de-andrade/brasil-hora-de-razao-por-ion-de-andrade
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