Haddad e a matemática do antipetismo. Por Jeferson Miola |
Cidadania | |||
Friday, 05 October 2018 03:48 | |||
Examinando-se a série de levantamentos realizados a partir de 20 de agosto, quando Lula figurou pela última vez nas pesquisas eleitorais, constata-se as seguintes realidades:
1. em 20/8 Lula atingia 37%, com perspectiva de vitória no primeiro turno. A soma dos votos do polo não-antipetista [Ciro, Boulos e Vera] alcançava 43%, enquanto os candidatos antipetistas, aqueles que fazem do antipetismo sua razão primordial de ser e de existir, somavam 35%; 2. na primeira simulação como substituto do Lula [em 20/8], Haddad arrancou com 4%. Os votos não-antipetistas caíram para 15% e os votos antipetistas saltaram para 46% – alcançando patamar que se sustenta até hoje; 3. a partir da terceira semana de setembro o cenário que hoje conhecemos já estava cristalizado: a) a eleição polarizada entre Haddad e Bolsonaro, com possibilidade remota de qualquer outro candidato, que não eles, passar para o segundo turno; b) Haddad estacionado ao redor de 21% e os votos não-antipetistasestabilizados na faixa dos 32-34%. Nas semanas seguintes, Haddad não conseguiu sustentar o crescimento diário de quase 1%; c) Bolsonaro conseguiu manter-se estável ao redor de 28-30%. Os votos antipetistas ficaram estáveis na faixa de 48-51%. Este quadro evidencia que: 1. o silêncio e a incomunicabilidade imposta a Lula está surtindo o efeito planejado pela ditadura Globo-Lava Jato. Manter Lula preso, amordaçado e sem comunicação com o povo é questão de vida ou morte para a estratégia eleitoral do regime. O estabelecimento da censura e as patifarias de Fux e Toffoli para impedir entrevistas do Lula devem ser entendidas neste contexto; 2. sem a presença do Lula na eleição, Haddad não se beneficiou plenamente do potencial de transferência de votos do Lula a ele, e o não-antipetismonão conseguiu recuperar o índice que tinha em 20/8 [43%]; 3. para o establishment, pouco importa se o bolsonarismo representa uma tragédia para o Brasil, porque o essencial é impedir de qualquer maneira o retorno do PT ao governo. O antipetismo é, portanto, o critério em torno do qual se desenrola a eleição; 4. o terrorismo antipetista na mídia liderada pela Globo, nas igrejas neopentecostais, nas mídias sociais, no judiciário etc, tem sido bastante eficaz. A armação do Moro com a delação fraudulenta do Palocci, que é parte desta guerra suja contra Lula, o PT e Haddad, parece ter conseguido prejudicar Haddad. O desempenho do Bolsonaro, por outro lado, é surpreendente; supera todas as projeções que se fazia. Ele conseguiu impedir a perda de votos e manteve-se estável, a despeito do movimento #EleNão e dos ataques pesados do Alckmin na propaganda partidária. O candidato fascista acabou se beneficiando do ódio que a Globo dissemina contra o PT para favorecer o tucanato, e capturou esse lugar que a Globo cultivara para Alckmin. As principais tendências do primeiro turno estão assentadas. Nesta semana derradeira da eleição, a Globo e a Lava Jato poderão promover novos atos terroristas para enfraquecer a votação final do Haddad no primeiro turno, neutralizando o tradicional crescimento que o PT costuma ter na reta final das eleições. As recentes pesquisas não trazem grandes novidades, apenas refletem a realidade que já vinha se consolidando. A disputa eleitoral continua claramente polarizada entre a continuidade do golpe e a restauração da democracia; entre avanços e conquistas populares e retrocessos civilizatórios; entre Bolsonaro e Haddad. O clima prefigura um cenário de segundo turno extremamente renhido, de disputa entre 2 destinos radicalmente opostos para o Brasil: ou vence a civilização, ou vence a barbárie neoliberal na sua versão racista, autoritária e misógina – na sua versão, enfim, fascista.
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