Expurgar os golpistas que tentam manter seu poder até novo assalto. Por |
Cidadania | |||
Wednesday, 05 July 2023 01:27 | |||
Muitos detalhes ainda serão conhecidos quando os controles forem relaxados na sucessão das conjunturas. Houve um fascinante deslizamento de elites que até as eleições prometiam tomar o poder "na lei ou na marra", à margem da legalidade se fosse necessário. Dentre os atores dessa peça bufa, de falsos disfarces e versões conhecidos de todos, destacam-se os atos comandos militares e, em movimento combinado e desigual, parcela expressiva dos empresários. Por que ambos resolveram abortar a fermentação golpista e sucumbir diante da força "opressora" da inércia institucional vitaminada pela realidade das urnas? Esses movimentos foram coordenados, ou seja, obedeceram a algum tipo de acerto comum? A cúpula militar, que antes trabalhava para minar a credibilidade do sistema eleitoral migrou para um recuo organizado. Em paralelo, expoentes do bolsonarismo mais caricato no meio empresarial recuaram. O ativismo de Havan, Madero, Centauro, Habibs e outros foi dando lugar ao silêncio disciplinado e daí a uma conversão de retórica conciliadora, de torcida pelo governo de Lula, "para o bem do Brasil". Em ambos os casos, os processos guardam tantas coincidências cronológicas no proscênio que suscitam suspeitas sobre o que ocorria nos bastidores. Não é de hoje a afinidade de conteúdo ideológico e forma golpista entre a cúpula militar e setores poderosos do empresariado. O arranjo desta vez foi dificultado pela característica da frente nucleada pelo PT. A adesão de elementos simpáticos ao poder econômico, representados especialmente pelo ex-tucano Geraldo Alckmin, acabou servindo como álibi ou rota para a neutralidade dos trânsfugas e oportunistas. Estes buscaram refúgio organizado na "nova ordem", à espera de novas conjunturas. Desse esconderijo aguardam preservados o advento de momento favorável a novo assalto, pela via das urnas ou das armas. Até lá, tentam evitar mais desgaste de suas respectivas imagens. No refluxo, recarregam as baterias e mantêm intacto seu domínio das corporações. Apresentando-se como respeitáveis defensores da democracia. Seria o momento de devassar seus envolvimentos, desmontando, o mais possível, em especial no meio militar, o seu domínio, submetendo-o de uma vez por todas, à democracia e ao poder civil. Seria uma reversão necessária e rara dessa longa convivência com o inimigo ao lado, mas haverá vontade e conveniência política? Não existem realidades puras na vida real. Em algum nível, para além dos moralismos, impõe-se eliminar os bandidos da máquina ou o comércio com eles e mesmo seu trânsito para o poder. O preço histórico dessa farsa é caro e não se deve desperdiçar oportunidades quando elas aparecem.
Mario Vitor SantosMario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha. Artigo publicado originalmente em Expurgar os golpistas que tentam manter seu poder até novo assalto - Mario Vitor Santos - Brasil 247
|
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |