O que leva jornalistas sérios a participar do Roda Viva? por Paulo Nogueira |
Cidadania | |||
Thursday, 06 February 2014 23:51 | |||
Nunes, depois de um longo ostracismo no jornalismo, foi recontratado pela Veja – de onde saiu em meados dos anos 1980 – para produzir textos antipetistas. E a tevê Cultura, mantida pelo governo de São Paulo e sustentada pelo dinheiro público, é a mesma de sempre: não tem nenhum pudor em fazer propaganda política como se fizesse jornalismo. Aconteceu, portanto, o que era amplamente previsto: a instrumentalização do que foi, no passado, um programa de entrevistas respeitado. A surpresa, para mim, passados alguns meses da nova gestão, é como jornalistas fora do grupo que vive de atacar o PT se prestam a participar do que é, hoje, um circo. Vi, no último programa, por exemplo, Eugênio Bucci. Conheci nos anos de Abril, e ele é um jornalista sério. O que ele estava fazendo num programa que não é sério? Cito-o ao acaso, porque o vi dias atrás, apenas. Mas me refiro a todos os figurantes – jornalistas independentes — que têm ajudado a colocar no ar o Roda Viva. Eles não se dão conta de que são usados, manipulados, que são apenas escadas? É uma hipótese, e a mais provável na minha opinião. Que a turma de Augusto – Azevedo, Setti, Villa etc – frequente o programa era esperado. Mas e os demais? Dinheiro não é. Houve, no passado, um cachê simbólico, lembro. Fui a alguns programas nos dias de Jorge Escosteguy. Fora o cachê – imagino que uns 500 reais em dinheiro de hoje –, era oferecido um jantar no Rodeio depois do programa, em que entrevistado e entrevistadores confraternizavam. O dinheiro, portanto, não explica. A exposição é a resposta? Não subestimemos a vaidade dos jornalistas, mas é preciso lembrar que participar de um programa de falso jornalismo não contribui muito para a imagem de ninguém. O Roda Viva precisa de alguns entrevistadores que não sejam reacionários para dar uma aura de “diversidade” aos espectadores. É uma espécie de cota da conveniência. Teoricamente, os jornalistas recusariam este papel infame. Alguém pode imaginar Mino Carta, por exemplo, sentado ali? Mas eles, os jornalistas, comparecem e alimentam, alegremente, o circo. Ou não é circo um programa em que Augusto Nunes abre uma entrevista com Lobão com a seguinte pergunta: “Lobão, o que você pensa da presidente Dilma Rousseff?” A cena que me vem à mente agora é Eugênio Bucci tentando apertar Tuma Jr, que suava e arfava como se estivesse sob o calor infernal que marcou o romance Grande Gatsby. Fracassou a tentativa. Claro. O papel dos jornalistas sérios, no Roda Viva, é secundário. Eles estão ali apenas como objeto de decoração num ambiente completamente enviesado. Talvez um dia eles se deem conta disso. Ou talvez não, e continuarão a ser usados pelo que é hoje um programa que finge ser de jornalismo. Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-que-leva-jornalistas-serios-a-participar-do-roda-viva/
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