Wagner Moura e o manifesto autofágico. Por Lelê Teles |
Dando o que Falar | |||
Tuesday, 08 September 2015 22:16 | |||
nego achou que Moura se entregou, todo mundo percebeu, pelo sotaque, que ele era brasileiro. um jornalista progressista chegou a perguntar por que não chamaram um ator hispano hablante para fazer o papel. pergunta bisonha essa, o espanhol é idioma oficial em 21 países, ele tem uma gama enorme de variações e sotaques. bobagem, portanto. e mais, copiar o idioleto, que é a marca individual de fala, é um recurso de imitadores e não de atores. para mim, essa celeumazinha é apenas mais uma manifestação do Viralatismo, um movimento que cresce a cada dia no Brasil. é bom saber, o Viralatismo se opõe ao Modernismo e seu expoente símbolo é o cantor Ed Motta, aquele que não aceita ser reconhecido como um artista latino e prefere definir a si mesmo como um artista latindo. o Viralatismo, antípoda do Modernismo, tem como conceito e meta síntese "só a autofagia nos desune". o negócio é meter o pau em qualquer traço de excesso brasilidade de patrícios com sucesso no exterior. só deglutimos bem, nas estranjas, o sucesso de brasucas loiras de olhos claros como Gisele Bundchen. Padilha, Moura, Coelho e Britto não nos representam, latem os vira-latas. se antes, no Modernismo, a proposta era deglutir o legado cultural europeu e regurgitá-lo como uma arte tipicamente brasileira; hoje, no Viralatismo, queremos nos deglutir a nós mesmos para ver se extraímos daí novamente a arte europeia pura, sem resquícios de brasilidade. absurdo, paradoxal e oximórico, o Brasil é capaz de produzir vira-latas com pedigree. espécimes endêmicos destas terras tropicais e exclusivos destas paragens, o viala-lata com pedigree tem como marca o rabo fino e sua meta síntese é tentar morder o próprio rabo. Paulo Coelho é um escritor aclamado no mundo inteiro, mais de 130 milhões de livros vendidos em mais de 160 países. por isso mesmo, no Brasil, ele é odiado por uma multidão que nunca leu um único livro dele. o odeiam simplesmente por ele ser brasileiro e ter feito sucesso como escritor. imagina, um ex-parceiro de Raul Seixas, um ex-tomador de chás de cogumelo! Romero Britto é igualmente odiado pelo viralatismo. o pernambucano, com cara de trabalhador, faz uma pop art - mais pop do que art - alegre, vibrante, colorida e que encanta uma multidão; palmas pra ele. só que não. há algo no sotaque de Coelho, Britto e Moura, que incomoda os vira-latas. quando ouço o ladrar dos cães de rua contra Wagner Moura pelo sucesso que faz no papel de Pablo Escobar, lembro que nunca os ouvi ladrar contra o sotaque do Olivier Anquier. aliás, todo vira-lata acha lindo um francês falando português com aquele sotaque engraçado do Grilo Falante. por isso os franceses fazem sucesso nos programas de gastronomia, é mais pelo sotaque que pela comida que fazem. todos querem ouvi-los dizer alhô, cebolá, macarrón... é por isso que gênios do marketing pessoal como Inri Cristo, Padre Quevedo e o ex-rabino Henri Sobel carregam no sotaque. é como jogar um osso para um vira-lata. no mais, o cinema americano está repleto de atores alemães, belgas, italianos, espanhóis, ingleses... todos com o seu sotaque. aliás, o sotaque do austríaco Arnold Schwarzenegger não lhe atrapalhou em nada, tanto é que ele se tornou governador da Califórnia. só atrapalha o sotaque de Moura. lanço essa crônica como o manifesto autofágico não oficial; carece ainda de uma marca, uma logomarca: um cão vila-lata a morder o próprio rabo. algum artista se habilita? Palavra da salvação. Sobre o Autor: Jornalista e publicitário. Roteirista do programa Estação Periferia (TV Brasil), apresentador do programa Coisa de Negro (Aperipê FM) e editor do blog FALA QUE EU DISCUTO Artigo publicado originalmente em http://www.brasil247.com/pt/colunistas/leleteles/195976/Wagner-Moura-e-o-manifesto-autofágico.htm
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Last Updated on Thursday, 10 September 2015 04:27 |
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