Os falsos consensos que a direita impõe. Por emir Sader |
Dando o que Falar | |||
Tuesday, 26 January 2016 05:11 | |||
Porque o debate das ideias, dos valores, das crenças das pessoas termina sendo o nível fundamental para a disputa de projetos na sociedade. Os brasileiros decidiram quatro vezes seguidas que preferem um modelo de desenvolvimento com distribuição de renda e com isso reelegeram os governos de esquerda e derrotaram a direita. Mas foram opções em torno de alternativas concretas: dar continuidade ao que tem transformado positivamente o Brasil ou retroceder a um modelo que fracassou no passado recente? Na última eleição, muito claramente, a campanha foi contra os riscos dos retrocessos, sem o eixo nos projetos e nos fundamentos do que queremos para o futuro do Brasil. Por isso essas decisões não foram acompanhadas da hegemonia dos fundamentos em que se baseiam essas alternativas. Valendo-se do monopólio privado dos meios de comunicação e da ausência de um discurso claro e constante por parte da esquerda – tanto do governo, como dos partidos, movimentos populares e meios de comunicação da esquerda - a hegemonia de ideias, de valores, de crenças da direita nunca foi quebrada no país. O resultado das últimas eleições deveria ter levado a esquerda a tirar consequências profundas da sua quase derrota. Dilma triunfou onde as imensas transformações sociais mudaram radicalmente a vida das pessoas, relegando a influência da mídia a segundo plano. No nordeste ela triunfou sempre com mais de 70% dos votos. Mas mesmo aí esses amplos setores sociais não foram organizados pelo campo popular, que não concentrou aí seu trabalho de conscientização das milhões de pessoas que apoiam o governo e levaram à sua quarta vitória consecutiva. Enquanto que no centro sul o candidato da direita ganhou, frequentemente com maioria próxima dessa proporção, em torno de 2/3 a 1/3 dos votos. Significa que dos 51 milhões de votos da direita, uma alta proporção veio de camadas populares, beneficiarias das políticas sociais do governo, mas que foram diretamente influenciadas pela mídia. Não houve um trabalho que favorecesse a consciência social desses milhões de pessoas, que poderiam ter aderido à candidatura que promoveu sua radical melhoria de vida, um erro grave do governo e de todo o campo popular, que desembocou na virada conservadora atual. Em síntese, o governo triunfou por suas políticas sociais e perdeu na formação da opinião pública, onde o peso da mídia foi determinante. Os dois eixos fundamentais da sistemática campanha da direita pela mídia tiveram efeitos concretos: o pessimismo econômico e o denuncismo reiterado, há mais de 10 anos, de corrupção do governo e do PT. A direita conseguiu construir consensos falsos, que se difundem quase sem resistência por toda a sociedade, facilitados agora pelas posições atuais do governo, que praticamente fizeram desaparecer um polo de contraposição a essas posições. Com a ofensiva no segundo mandato da Dilma, a direita consegue impor na opinião pública afirmações e valores não apenas falsos, como antidemocráticos. Como por exemplo, entre outros, os de que Basta essas menções para nos darmos conta de como a esquerda está perdendo a mãe de todas as batalhas: a batalha das ideias. E quando o governo se soma a um dos consensos mais importantes da oposição, ao de que a via para superação da crise não é a retomada do desenvolvimento pela democratização do acesso aos créditos e pela distribuição de renda – como resistimos à crise em 2008 -, mas pelo corte reiterado dos gastos do Estado, o consenso conservador se fortalece ainda mais. É certo que o monopólio dos meios de comunicação é um poderoso instrumento a favor desses consensos conservadores, mas é A esquerda triunfou em 2002 pelo fracasso do modelo econômico neoliberal, mas a mais pesada herança que recebeu foi a hegemonia neoliberal ao nível das ideias, que a esquerda nunca quebrou. Os triunfos eleitorais se deram pelo sucesso das políticas econômicas, que não foram acompanhados da conscientização política e da organização dos amplos setores populares que decidiram as vitórias eleitorais a favor do governo. Massas que foram vítimas das campanhas da direita e quase levaram ao final do mais importante processo de democratização social que o Brasil já viveu. Mas que, se não for acompanhado de um profundo processo de democratização política, econômica e ideológica, de reversão da hegemonia conservadora no plano das ideias e dos consensos sociais, não conseguira reverter a ofensiva conservadora que tem colocado em risco não apenas os avanços sociais, mas as próprias conquistas democráticas que permitiram que a esquerda tenha constituído maiorias eleitoras no pais, que tem que se transformar agora em hegemonia de ideias, de valores e de crenças. Artigo publicado originalmente em http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/214514/Os-falsos-consensos-que-a-direita-impõe.htm
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