Semana passada, no meio do massacre midiático contra Lula, justificado pelos grandes veículos de comunicação como necessário para aclarar as relações do poder no Brasil com favores de empresas (estas eram as acusações: Lula recebia favores das empreiteiras) surgiu a entrevista-bomba de Miriam Dutra, ex-amante de FHC.

A cobertura dessa grande imprensa sobre tais fatos estarrece pela absoluta falta de honestidade, veracidade ou mesmo da mais mínima dignidade. Em primeiro lugar, Miriam é tratada como a “namorada” de FHC. Ora, o caso amoroso foi todo durante o casamento do ex-presidente com a digna D. Ruth. Fosse Lula, seria a amante. Alguém tem dúvida? Evidentemente, o tratamento mais leve é para suavizar a condenação moral ao patriarca do PSDB pela traição à grande intelectual com que estava casado. Renan Calheiros não teve esta sorte no tratamento de seu caso com Monica Veloso.

O affair, porém, tem todas as circunstâncias que a grande imprensa dizia buscar conter trucidando Lula. Miriam Dutra foi sustentada durante inúmeros anos pela Rede Globo no exterior, com um salário de cerca de 4 mil dólares. Era jornalista correspondente, mas neste período nunca teve uma única matéria aproveitada. Por que uma empresa de comunicação manteria um contrato destes? O imenso empréstimo do BNDES para a Globo dado por FHC tem alguma relação com isto? Depois, Miriam Dutra foi paga durante cerca de 4 anos pela Brasif, uma empresa que no governo FHC conquistou um contrato de lojas nos aeroportos (são as Duty Frees, que todos conhecem). FHC no início negou, mas a empresa confirmou que ela era contratada para “investigar preços em free-shops”. Meu Deus, quanta desfaçatez!

As revistas semanais simplesmente ignoraram o tema. Os jornais deram o menor espaço possível. Ninguém investigou nada. O Juiz Moro acelerou mais uma acusação contra o PT, para ajudar no esforço de tirar o assunto FHC da roda, logo trombeteada pelos veículos de comunicação.

Aqui no RS, o tratamento da imprensa não foi diferente. Para atacar Lula, Zero Hora chegou a colocar sua principal colunista na página 3 de um domingo, fato inédito, para dar maior repercussão às denúncias. Condenou em editorial o fato de sua defesa buscar no CNJ medidas contra um promotor que abusou de sua competência para investigá-lo e divulgou, previamente, o que iria fazer. Lula não pode nem se defender no Judiciário, sem ser moralmente condenado por ZH. Quanto a FHC, nada mais que meras duas colunas num jornal de sábado, que é tão inútil e pouco lido que em março vai desaparecer…

A diferença de tratamento da grande imprensa para os casos de Lula e FHC superou os critérios da luta política e partidária. Hoje já é lugar comum afirmar que no Brasil os veículos das grandes empresas de comunicação são partidos de oposição. Mas nestes casos em particular, quando tudo de que Lula é acusado por meros indícios se escancara quanto a FHC e o esforço para esconder e blindar o tucano é tão óbvio, vê-se que não se trata apenas de posição ideológica. Aqui também há uma questão de caráter. Como se olha no espelho quem submete-se, quieta e mansamente, a tal estado de coisas?

Desligue a Globo (e a RBS) que o Brasil melhora. Inclusive eticamente.

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Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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