Quem vai deter o monstro? Por Fernando Brito · |
Dando o que Falar | |||
Friday, 11 March 2016 12:37 | |||
Na Alemanha, partiu-se de um ressentimento nacional, com as humilhações impostas por Versalhes, dramatizou-se-o com a inflação galopante, criando a estufa onde cresceram os grupamentos que proclamavam a restauração nacional e a eliminação dos parasitas econômicos e sociais, responsáveis pelos dramas diários do povo alemã. E, afinal, uber alles, acima de tudo, um obcecado, de olhar vítreo, a dar forma humana (humana?) e divinal ao desvario coletivo. Tudo sob o beneplácito do capital alemão que aplaudia e recebia em seus salões aquele tipo meio estranho, mas muito útil para deter os “vermelhos”. Estamos, aqui, diante de mais que um simples golpe político. Despertou-se um processo incontrolado de afirmação de uma casta judicial-policial que está inebriada pela conquista do poder real sobre a vida brasileira, por deter na lei e na sua aplicação – e as consequências disso: processos, buscas, “conduções” e prisões – um poderoso instrumento de chantagem que torna vassalos os “com-voto” do Executivo e do Legislativo. Deformações éticas e morais, próprias (embora impróprias, em si) de quaisquer estruturas político-organizacionais – públicas e privadas, nestas algo mais legitimadas pela “finalidade” do lucro – tonaram-se o já longínquo ponto de partida para essa cruzada neofacista. Já quem se lembra de Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco e seus milhões roubados? Apenas isso, para continuarmos no alemão, um leitmotiv, um motivo condutor wagneriano para temperar a ópera (e seu público) sempre com a pimenta ardida da corrupção. Que passa de um caso, verdadeiro, para uma causa, e falsa, que mal encobre um rasgo de usurpação do poder. Em nome de um “republicanismo” que travestia a covardia, as instituições legítimas permaneceram inermes diante do que se desenvolvia, esperando que os sistemas de freios e contrapesos da Justiça prevalecessem, sem entender que, por covardia ou cumplicidade, não é apenas o arreganho de um maníaco – embora haja em Sérgio Moro todos os traços de uma obsessão- mas um projeto de tomada de poder. Que, mesmo que se frustre, terá deixado na vida brasileira os ajuntamentos fascistas que se vê proliferarem e ganharem peso. O que se fez, ontem, no pedido de prisão preventiva de Lula, perdeu os ainda presentes – e nem tanto, desde o abuso da condução coercitiva de Lula, na sexta – rebuscos jurídicos de Moro. É a já a baixa milícia em ofensiva, que coloca nas mãos e na cabeça de uma juíza de Vara Criminal os destinos da República. Sem qualquer julgamento de caráter desta magistrada, é demais para ela ou para qualquer outro. Se for uma pessoa dominada pelo ódio – tão frequente hoje – por ele pode se deixar levar. E, se ao contrário, for equilibrada e plena de sentimento de legalidade – se poderá exigir dela que trate e mostre como lixo o que virou “causa do combate à corrupção”? Lembrem-se que o tema de Wagner toca, todos os dias, por todo o dia, com afinação de uma orquestra, em todos os alto-falantes do país. O grande compositor alemão, que teve práticas esquerdistas, chegando a integrar a Guarda Comunal Revolucionária nos levantes de 1848, 90 anos depois, como se sabe, foi transformado em fundo musical do nazismo. Artigo publicado originalmente em http://tijolaco.com.br/blog/quem-vai-deter-o-monstro/
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