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O que falta na Europa é mobilidade vertical, por Rogério Maestri
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Dando o que Falar
Sunday, 26 June 2016 19:28

Rogerio_MaestriMuitos se perguntam por que da revolta dos ingleses contra a Comunidade Europeia e os votos nos movimentos populistas de direita em toda a Europa, se pode pensar que as pessoas que recebam todos os recursos de estados de Bem Estar Social, não deveriam reclamar tendo uma série de direitos e ajudas.

Porém as pessoas confundem conforto e segurança mínima do Estado de Bem Estar Social a satisfação pessoal de cada um com mobilidade social e falta de protagonismo que se baseia todo o discurso Europeu. Espantam-se também pela revolta contra o “establisment” político-burocrático europeu que na realidade fornecem a estes revoltados todos os benefícios sociais que conhecemos. Estes que não entendem porque da revolta esquecem que as pessoas não vivem só de comida!

Por mais que se criem mecanismos de garantia social, de serviços públicos com relativo sucesso a Europa tem um sistema de ensino associado a um sistema de progressão social que torna extremamente difícil a carreira de um jovem filho ou neto de operários aos cargos mais altos tanto das carreiras públicas como das carreiras em instituições privadas.

A imensa maioria dos filhos e netos das classes proletárias em ascender a altos postos de trabalho na administração pública e privada. No exemplo francês, por exemplo, se tu és egresso de uma grande escola (grande escola são escolas de engenharia, de administração pública e de outros setores que são as melhores ranqueadas no sistema de ensino superior) tu terás garantido no setor público vagas para os egressos destas assim como nas empresas privadas serás recebido de braços abertos para tanto. Porém para ascender a estas grandes escolas terás que fazer um curso preparatório em instituições especiais para este fim (Classes  Préparatoires aux Grandes Écoles - C.P.G.E.) desde que tenha conseguido um bom resultado no BAC (exame semelhante ao ENEN, só que diferenciado conforme a carreira a ser desejada).

Dos anos 40 até os anos 70 vários estudos realizados provam que a dificuldade de entrada nas Grandes Escolas aumentou após os anos 80 ou seja no sentido contrário do que se pode pensar (vide Diversité sociale dans les classes préparatoires aux grandes écoles : mettre fin à une forme de « délit d'initié » Publicação do Senado Francês), a diferença é tanta que em 2002 os alunos nas Grandes Escolas eram distribuídos na seguinte proporção conforme a “Origem sócio profissional do pai)

Agricultores 3,5%

Operários 5,2%

Empregados 5,7%

Artesãos 6,36%

Aposentados 7,2%

Profissionais de nível médio 10%

Quadros superiores e profissionais liberais 67,5%

Em resumo, profissionais de nível superior, que são uma minoria na França, conseguem colocar 67,5% de seus filhos nas grandes escolas, enquanto filhos dos demais só 32,5% entram nas Grandes Escolas.

Por outro lado o Sistema Educacional Francês permite o ingresso livre nas Universidades em que recebem milhares de títulos diversos, e com um bom diploma conseguem se não ficarem desempregados um emprego de “technicien de grande surface” (faxineiro de supermercado).

Em toda e Europa se reproduz o mesmo tipo de cenário, os grandes cargos e empregos são reservados para a elite da “meritocracia”, enquanto para os filhos do proletariado é reservado um diploma para ficar desempregado e ganhar um auxílio desemprego ou um emprego bem abaixo da formação acadêmica do mesmo.

Esta falta de mobilidade social cria uma verdadeira revolta contra os chamados burocratas em geral e da Comunidade Europeia em particular, pois simplesmente estes filhos de operários e camponeses que ajudaram a construir a Europa dos dias atuais, além do desemprego, se eles conseguirem sair dele, a possibilidade de ganhar um salário inferior a que ganhava um bom operário entre 1955-1975 é muito grande.

Estas pessoas se sentem alijadas das decisões europeias, pois o protagonismo que tem nas organizações políticas e sociais diversas é nulo, são chamados a votar periodicamente e encontram somente partidos de direita ou de esquerda que não apresentam nenhuma solução para os seus problemas.

Nenhum filho de operário ou mesmo de desempregado passará fome, ficará sem abrigo ou ficará sem escola, porém a chance de saírem deste círculo vicioso é muito baixa.

Na realidade o estado de bem estar social deu o mínimo para que seus pobres não passassem necessidade nem que seus filhos aparentemente tivessem a mesma oportunidade da burguesia europeia.

O voto no Brexit, o voto nos partidos de direita e no extremo o ingresso no Daesh é explicado por uma ruptura entre a sociedade de massas e o “establisment” que realmente manda nesta sociedade. Estes movimentos simplesmente adotam um discurso de contrariedade a tudo sem precisar provar nada, e quando são confrontados com intelectuais estes são vistos mais como inimigos como alguém que queira resolver o problema (e grande parte das vezes a identificação é real).

A falácia da meritocracia está levando a ruptura das sociedades que apesar de apresentarem índices mínimos de qualidade de vida satisfatórios não estão dispostas a discutir profundamente uma política de inclusão social real e de azeitamento da mobilidade vertical, pois claramente se vê que políticos e burocratas estão nesta perversa e desleal concorrência com as categorias sociais inferiores, e talvez instintivamente garantam antes de mais tudo a preservação do status quo que lhe dá certa garantia a sua prole.

Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/blog/rdmaestri/o-que-falta-na-europa-e-mobilidade-vertical-por-rogerio-maestri

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