Não levou desaforo para casa. Por Alex Solnok |
Dando o que Falar | |||
Monday, 12 September 2016 00:53 | |||
Eliseu Padilha demitiu Osório, Osório não aceitou. (Mais ou menos, guardadas as devidas proporções como no episódio em que Paulo Henrique Ganso recusou-se a sair de campo quando o técnico quis substituí-lo.) Gaúchos ambos, os dois bateram cabeça. Advogado Geral da União, o que não é pouca coisa, Osório disse que só saía demitido por Temer e não por um ministro como ele: "Que governo é esse, onde ministro demite ministro?" Padilha chamou Temer, que consumou a demissão por telefone. E tinha uma carta na manga para o cargo agora vago: Grace Mendonça, que trabalhava com Osório. Elementar meu caro Watson: era a mulher que faltava no primeiro escalão. Embora fosse do segundo. O "Maquiavel de Tietê" deu aquela risadinha entredentes, como quem diz algo como "não contavam com a minha astúcia". Padilha mandou espalhar que Osório fora demitido por querer interferir na Lava Jato. E ponto final. Achou que o assunto estava enterrado. Osório reagiu: foi à Veja contar a sua versão. E a sua versão é arrasadora. E diametralmente oposta à de Padilha. Ele diz que pediu à Polícia Federal acesso a inquéritos de aliados do governo para abrir ações de improbidade administrativa contra eles e não os proteger, como insinuou Padilha. A Polícia Federal enviou os inquéritos de Arthur Lira, Benedito Lira, Dudu da Fonte, João Alberto Pizzolatti Junior, José Otávio Germano, Luiz Fernando Faria, Nelson Meurer e Roberto Teixeira, do PP e de Renan Calheiros, Valdir Raupp e Aníbal Gomes, do PMDB. Osório recebeu autorização do Supremo Tribunal Federal para conhecer os inquéritos, mas, apesar de a Advocacia-Geral da União precisar somente copiar os inquéritos em um HD, eles não chegavam até ele. A secretária encarregada da cópia, Grace Fernandes Mendonça, alegava repetidamente não encontrar um HD externo. "Me parece que o ministro Padilha fez uma intervenção junto a Grace Mendonça, que, de algum modo, compactuou com essa manobra de impedir o acesso ao material da Lava-Jato", disse Osório à Veja. A sub que o enganava com os documentos ganhou imediatamente o seu lugar. Osório ofereceu à Veja uma grande manchete: "O governo quer abafar a Lava Jato". Confirmou, portanto, a narrativa insinuada por Romero Jucá na famosa gravação que o derrubou do ministério do Planejamento. É o primeiro escândalo do governo empossado há dez dias. E que escândalo! A primeira grande crise. Um recorde! Como sabemos, todas as quedas de presidentes, desde 1992, começaram na capa da Veja. Ao acusar o governo, Osório acusa Temer. Já delatado na Lava Jato, é o principal interessado em melar a operação. Isso, sim, é obstrução à Justiça! Ou Temer joga Padilha ao mar, ou vai fazer de conta que não viu e não ouviu. Mas... derrubar mais um ministro? É crise sobre crise. A essa hora o palácio deve estar procurando estratégias para atenuar os efeitos do incêndio a bordo. Mas apagar incêndio com o Titanic em movimento é complicado. A oposição poderá pedir uma CPI: a CPI da Lava Jato, com base nas declarações de Osório à Veja. A oposição pode ser pequena, mas é barulhenta. A situação vai se ver numa saia justa: vai defender o governo ou a Lava Jato? A opinião pública, que já não vai com a cara do Temer ganhou mais um forte argumento para rejeitá-lo. Tudo o que Temer temia, mas não queria que acontecesse. E isso é apenas o começo de um governo ilegítimo. Mas pode ser o fim. A "Buzina do Chacrinha" era um programa que "acaba quando termina". Este é um governo que acaba quando começa. Artigo publicado originaolmente em http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/254432/N%C3%A3o-levou-desaforo-para-casa.htm
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