A tréplica do autor do artigo sobre Moro mostra que sua lua de mel com a mídia está no fim. Por Kiko Nogueira |
Dando o que Falar | |||
Monday, 17 October 2016 01:17 | |||
O brilhante artigo de Cerqueira Leite compara Moro ao frei dominicano Girolamo (Jerônimo) Savonarola, moralista que tentou transformar a Florença do final do século 15 num estado cristão. Foi enforcado e depois incinerado numa fogueira. “Imaginem só como Moro seria terrivelmente infeliz se não existisse corrupção para ser combatida”, escreveu o professor. “Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes”. Moro se revelou em vários sentidos. O primeiro deles é que Cerqueira Leite acertou na veia e seu personagem vestiu a carapuça. O segundo é que Moro expôs uma faceta terrivelmente antidemocrática. “A publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveriam ser evitadas”, apontou. Ora, deveriam por quê? Quem decide o que se enquadra nessa definição? Ele? O jornal — o Brasil — ganhou um super editor? Um limite foi ultrapassado e isso ficou patente na maneira como a Folha lidou com o caso. Um pacto ganhou uma rachadura. No sábado à noite, a coluna de Cerqueira Leite foi novamente publicada por causa de um erro: Savonarola foi queimado em Florença, não em Roma. Para fazer essa correção, não era necessário reproduzir tudo de novo, mas foi o que ocorreu. Mais: no dia seguinte, o autor publicou uma tréplica.
É tão contundente quanto o trabalho que deu origem à série, talvez mais. O trecho sobre os “intelectos condicionados” é uma cacetada no fígado. Em situações normais, não teria saído. A Folha poderia ter dado o assunto como encerrado com a manifestação do “ofendido”. Mas ele exagerou na dose. Moro presta um serviço fundamental à mídia. Os vazamentos da Lava Jato são ouro. No pacote, foi transformado no Batman. De mentirinha, claro. O problema é que ele acreditou. A ponto de sugerir a um jornal o que ele deve ou não dar. Abusou. Achou que estava acima do bem e do mal e se queimou. O cristal se quebrou. E nada indica que ele vá parar por aí. Ah, sim. Antes que alguém me entenda mal: “se queimou” é figura de linguagem. Artigo publicado originalmente em
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