Falta de controle nas manifestações dá munição para mídia e governo.. Por Mauro Santayana |
Dando o que Falar | |||
Friday, 26 May 2017 04:16 | |||
Manifestação da oposição, qualquer que seja ela, não pode ser feita sem a organização de comitês de segurança formados por gente de confiança escolhida entre os próprios manifestantes. Se até nos blocos dos trios elétricos de Salvador dá para separar o público, bastando para isso um cordão humano e uma simples corda, porque não tentar fazer o mesmo em uma manifestação dessa importância? Não é a polícia que tem que revistar os "participantes". Como ocorre em muitos países estrangeiros, quem tem que fazer isso, primeiro, são os próprios manifestantes, para possibilitar a rápida identificação de fascistas e infiltrados pagos que ali estão recebendo justamente para garantir que a imprensa e a opinião pública tenham razões suficientes para ficar contra e desancar quem está protestando. Em política, qualquer cena de destruição e violência é passível de ser aproveitada pelo adversário. Ao final da tarde de ontem em Brasília, a TV já reforçava, a todo instante, a ocorrência de atos de "vandalismo". Justificava, com isso, a truculência da polícia, e lembrava, a cada cinco minutos, que se tratava de manifestações organizadas e "pagas" por centrais sindicais. Reforçando, indireta e gostosamente, a bandeira do enfraquecimento dos sindicatos e do fim do imposto sindical obrigatório. E a convocação de tropas das forças armadas pelo presidente da República, em absurda "ação de garantia de lei e da ordem". Sem esclarecer, com a mesma ênfase, que o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já havia desmentido ter pedido - em gesto por si só já absolutamente desnecessário e inadequado - tropas do exército, e, sim, da Força Nacional, para "colaborar" com a polícia do Distrito Federal na "defesa" dos prédios da Esplanada dos Ministérios. Um pouco de estratégia e de informações históricas não fazem mal a ninguém. O Movimento das Diretas Já só deu certo, do ponto de vista da ampla e bem-sucedida mobilização da sociedade brasileira - embora tenha perdido no Congresso depois - porque era suprapartidário, reunia as mais importantes organizações da sociedade civil, como a Igreja, a UNE e a OAB, tinha sido "costurado" politicamente antes de sair para a rua, era ordeiro, organizado e pacífico e primava pela organização. Vou falar o que penso, porque não sou vaquinha de presépio. Compreende-se a necessidade da oposição ir à luta nessa hora, em defesa, principalmente, da democracia. Mas se for para sair no improviso, de qualquer jeito, e acabar servindo de plataforma para a ação de provocadores fascistas, dando tiro pela culatra, ajudando a parte mais canalha da mídia a justificar a truculência da polícia, o enfraquecimento dos sindicatos e o golpismo, insuflando as vivandeiras dos quartéis e alimentando um novo golpe dentro do golpe, quem saiu para as ruas que me desculpe, mas é melhor ficar em casa assistindo, indignado, pela televisão, à ação dos infiltrados e à deprimente repetição de velhos e costumeiros descuidos do passado. Mauro Santayana é um jornalista autodidata brasileiro. Prêmio Esso de Reportagem de 1971, fundou, na década do 1950, O Diário do Rio Doce, e trabalhou, no Brasil e no exterior, para jornais e publicações como Diário de Minas, Binômio, Última Hora, Manchete, Folha de S. Paulo, Correio Brasiliense, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil onde mantêm uma coluna de comentários políticos.Cobriu, como correspondente, a invasão da Checoslováquia, em 1968, pelas forças do Pacto de Varsóvia, a Guerra Civil irlandesa e a Guerra do Saara Ocidental, e entrevistou homens e mulheres que marcaram a história do Século XX, como Willy Brandt, Garrincha, Dolores Ibarruri, Jorge Luis Borges, Lula e Juan Domingo Perón. Amigo e colaborador de Tancredo Neves, contribuiu para a articulação da sua eleição para a Presidência da República, que permitiu o redemocratização do Brasil. Foi secretário-executivo da Comissão de Estudos Constitucionais e Adido Cultural do Brasil em Roma. Artigo publicado originalmente em http://www.maurosantayana.com/2017/05/falta-de-controle-nas-manifestacoes-da.html?m=1
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