Huck anuncia outra vez que não vai concorrer, mas o faz com discurso de candidato. Por Luis Felipe Miguel |
Dando o que Falar | |||
Monday, 19 February 2018 05:24 | |||
Como esperado, Huck anuncia outra vez que não vai concorrer nas eleições de outubro. Mas o faz com discurso de candidato. É mais uma chance, portanto, de conhecer as ideias da encarnação viva e televisiva da decantada “renovação política”, aquele capaz de acolher as esperanças de gente tão insigne quanto Eliane Cantanhêde e Fernando Henrique Cardoso. Uma boa parte do texto é dedicada à construção da dobradinha “eu sou o máximo/eu sou humilde”. Todos afirmam que sou a solução para o Brasil, diz Huck, mas o país não pode depender de um só indivíduo. Tirando isso, o texto pode ser resumido a uma de sua frases: “Todos juntos pela renovação verdadeira”. Parece pouco para um artigo de 793 palavras, mas é significativo. O chamamento à ampla unidade (“todos juntos”) é restringido pelo qualificativo que o segue. O “todos” só engloba quem é “pela renovação verdadeira” da política. Há uma linha divisória, um “nós versus eles” implícito, e essa linha não consiste em campos opostos nas relações de dominação, em projetos de sociedade, em visões de mundo. É a “ética”. “Todos juntos” = todos os “cidadãos de bem”. E o sentido da “renovação verdadeira” fica claro quando Huck a exemplifica com as iniciativas empresariais de formação de lideranças alinhadas a seus interesses. Nem é preciso discutir a falácia desta compreensão da política. O próprio autor do artigo já mostra que, por trás da exaltação do novo, permanecem os mesmos velhos truques. O texto ignora olimpicamente todos os petardos que atingiram a “não-candidatura” do marido de Angélica nas últimas semanas, a começar pelo jatinho financiado pelo BNDES. Afinal, o “cidadão de bem”, por sê-lo, não precisa se explicar diante da opinião pública. Vigora a doutrina Ricupero: o que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde. O problema inicial do discurso “a honestidade é o único divisor de águas” é que ele é sempre empunhado desonestamente. Luis Felipe Migue é professor de ciência política da UnB
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