Na pior. Por Gustavo Conde |
Dando o que Falar | |||
Sunday, 29 March 2020 09:35 | |||
![]() Muita gente perdeu tudo depois do golpe. Comerciantes fecharam portas, engenheiros foram demitidos, funcionários com 20 anos de fábrica foram dispensados, frilas ficaram sem frilas. A pensão dos pais e avós ajuda nessa horas, mas muitos não tem mais pais e avós. Convicções eles ainda têm: continuam odiando o PT e o Lula. É a isso que se resume a vida mental deles. Alguns ouviam Pink Floyd, mas depois que o Roger Waters apareceu combatendo o fascismo, eles jogaram os discos de vinil no lixo. O coronavírus é uma espécie de castigo divino para essas criaturas. Nós estamos no "barco", mas nós entendemos o nosso desafio político, que continua sendo o mesmo: combater a desigualdade, produzir riqueza, cultura, soberania e conhecimento. Para eles, fica difícil combater o vírus, porque eles nunca combateram nada na vida (combateram as pessoas que queriam um país melhor). O Brasil é melhor do que tudo isso, é claro, até porque minha referência pessoal por amostragem é esse maldito interior do estado de São Paulo, terra das pessoas mais atrasadas do país, último bastião da escravidão. Há 10 anos, eu via microempresários antipetistas desfilando impávidos por ruas e escritórios, vociferando contra os "desmandos" do país e faturando relativamente bem, o suficiente para sonharem passear em Miami. Agora (há pouco tempo atrás, antes da quarentena), eles perambulam como zumbis, assustados, cabisbaixos, sem condições de olhar nos olhos. A maioria correu das redes sociais por vergonha. Os que sobraram, postam os textos cheirando a naftalina, cujos likes são de pena e solidão. Eles poderiam encher a boca e dizer - se tivessem uma gota de coragem residual de tempos ancestrais - sem medo: "joguei a minha vida inteira no lixo."
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Last Updated on Sunday, 29 March 2020 09:41 |
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