Putin age na Ucrânia como agiram Bush e Obama no Iraque, Líbia e Síria. Por Kennedy Alencar |
Dando o que Falar | |||
Tuesday, 01 March 2022 07:23 | |||
Nesse contexto, há um alto grau de hipocrisia em jogar somente na conta de Putin a responsabilidade pela eclosão da guerra na Ucrânia. Autocrata, o presidente russo não é flor que se cheire. O uso da força sempre deve ser condenado nas relações internacionais, mas as razões da guerra remontam a uma escalada de movimentos da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) tanto quanto a uma estratégia russa de afirmação geopolítica num século em que EUA e China replicam a bipolaridade pós-Segunda Guerra Mundial entre Washington e Moscou. Nas últimas três décadas, mais de uma dezena de países se filiou à aliança militar ocidental, que foi criada em 1949 no contexto da Guerra Fria entre EUA e a então União Soviética. A expansão da Otan no Leste Europeu sempre foi uma pedra no sapato da Rússia. Em 2014, com forte apoio dos EUA, houve uma revolução na Ucrânia que virou o jogo de poder interno: caiu um governo pró-Moscou e subiu ao poder um grupo interessado em se aproximar mais da União Europeia e ingressar na Otan. Seria muita ingenuidade imaginar que Putin assistiria a um ingresso da Ucrânia na Otan sem uma forte reação. Quando invadiram o Iraque, Líbia e Síria, os Estados Unidos ignoraram a ONU (Organização das Nações Unidas). Ora, a Rússia, maior país em extensão territorial do planeta e uma potência nuclear, considera legítimo imitar os americanos e usar o porrete em vez da diplomacia nas relações internacionais. Portanto, vilanizar Putin, como fazem parcelas da imprensa brasileira, americana e europeia, não vai ajudar ninguém a entender e/ou solucionar a crise na Ucrânia. Tampouco contribui retratar Putin como um novo Adolf Hitler. A bem da verdade, neonazistas existem e são bem aceitos na Ucrânia. Uma solução que levasse a Ucrânia a ser militarmente neutra seria a ideal e a justa para a atual crise. A autodeterminação dos povos é um princípio do direito internacional que deve ser respeitado, mas os EUA e a Europa fazem jogo político com a Ucrânia da mesma forma que a Rússia. A autodeterminação dos povos sempre encontrou um limite na força das superpotências. Em 1999, a Otan interveio no Kosovo para frear o exército sérvio. Com incentivo do governo Bill Clinton, houve uma rápida intervenção que levou Slobodan Milosevic à queda no ano seguinte. Com a Rússia, a conversa é outra. O poderio militar de Moscou não recomenda uma escalada bélica da parte da Otan. Nos próximos dias, deveremos assistir a um avanço russo no território ucraniano e uma situação consumada. Putin deverá levar essa, como os EUA levaram em ações militares semelhantes. Não há mocinhos e vilões nesse conflito no Leste Europeu. Artigo públicado originalmente em Putin age na Ucrânia como agiram Bush e Obama no Iraque, Líbia e Síria (uol.com.br)
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