A liderança de Marina Silva em xeque por Sérgio de Moraes Paulo |
Dando o que Falar | |||
Monday, 07 October 2013 05:29 | |||
![]() O espanto adquire o peso da indignação quando sabemos que ao menos 3 partidos foram autorizados pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE: PEN, Pros e Solidariedade. Aos adeptos de teorias conspiratórias e ou mal-perdedores, houve algum tipo de arranjo para que o tal Rede Sustentabilidade fosse aprovado até hoje. Será?
Marina Silva não é uma liderança política qualquer. Teve 20 milhões de votos na última eleição presidencial e possui simpatia e respeito nacional que fazem inveja a muita gente, de partidos grandes, médios ou pequenos. Mas, com tanto respeito, qual seriam as razões que poderiam justificar seu fracasso partidário de hoje se acreditarmos que não houve trapaças e ilegalidades no processo?
Em primeiro lugar, é preciso fazer uma pergunta mais simples. Por que Marina Silva não conseguiu tirar dos 20 milhões de votos recebidos em 2010, ao menos 500 mil assinaturas para o pedido de abertura de seu partido? O mais óbvio e simples é constatar que não dispôs de uma rede - trocadilho inevitável- de militantes que fossem capazes de colher com maiores cuidados as assinaturas de que tanto precisava. O menos óbvio é entender que Marina e seus apoiadores erraram na comunicação. Assinar o pedido de abertura de um novo partido não é o mesmo que pedir filiação ao mesmo. Qualquer um poderia ter assinado, mesmo que filiado a outro partido. Numa sociedade desconfiada até o último fio de cabelos dos partidos políticos, convencer as pessoas de que pedir um novo partido não significa compromisso legal com ele é muito importante. A rede de Marina não foi convincente com algo básico: comunicar-se com seus simpatizantes.
Mas, admitindo-se que entre os apoiadores de Marina estivessem pessoas, mesmo que em pequeno número, que soubessem explicar a simplicidade que seria assinar o tal pedido, faltou trabalho ou faltaram apoiadores. O palpiteiro desconfia que muitos deles apostaram mais nas redes sociais do que nas redes reais de apoiadores. Sindicatos, igrejas, associações civis e tantos outras. O palpiteiro não viu, em São Paulo, um único e mísero caixote de frutas para apoiar uma prancheta com papeis para ajudar a Rede a nascer. Pense rápido: quantas assinaturas por dia teriam conseguido com um cartaz e uma pessoa a pedir assinaturas no Viaduto do Chá, na Avenida Paulista, em frente a centros culturais e outros lugares com gente que poderia ter ajudado? Como dito, ou não tiveram gente suficiente, ou não tiveram gente que trabalhasse para isso em número suficiente.
Reconhecendo que que alguns fizeram o trabalho direito, outra questão se torna inevitável: por que uma liderança nacional, do tamanho da que Marina Silva possui, não conseguiu ter mais gente a seu lado para fazer um trabalho que demandaria tempo e muitos lugares? Como uma postulante à presidência do Brasil não foi capaz de arranjar 500 mil assinaturas a tempo?
Talvez Marina Silva e seus apoiadores tenham sido vítimas do veneno que disseminaram, mesmo que involuntariamente. O veneno da contradição tem gosto amargo neste caso. Propagar ideias de que TODOS os partidos são um problema e que se busca algo "novo", "honesto" e "verdadeiro", para não dizer "ético", confunde muito quando o que você quer é justamente isso: montar um partido... O palpiteiro participou de 2 das manifestações de junho. Na do dia 13, viu organização, gente indignada e firme. No dia 17, na Faria Lima, deparou-se com pessoas perdidas, vomitando frases feitas, namorando com o fascismo e dispostas a agredir aquele que se atrevesse a erguer a bandeira de um partido, fosse qual fosse. "Sem partidos" foi a palavra de ordem de muitos daqueles que agora lamentam a negação do direito de mais um partido. Tem certos pedidos que são aceitos. "Cuidado com o que se pede", ensina a sabedoria popular...
Marina Silva talvez tenha acreditado que pudesse se descolar do sentimento geral de repulsa a partidos políticos. Em 2010, demorou para declarar sua posição no segundo turno da eleição presidencial. Poderia ter apoiado Dilma. Poderia ter apoiado Serra. Poderia ter pregado o voto nulo, com determinação. Preferiu se fingir de pura, "liberando" seus simpatizantes a fazerem o que achassem melhor. O PV de Marina Silva em 2010 tinha um pé com o PSDB no Estado de SP, e outro com o PT, em Brasília. Marina não quis se complicar e fugiu da incômoda decisão de tomar um lado num contexto de divisão forte entre os eleitores. Em palavras mais duras, Marina Silva "vacilou". Ninguém confia numa liderança indecisa. Marina perdeu muito naquelas horas em que pensou demais, julgou demais, acautelou-se demais. E liderou de menos...
O Brasil tem perdido muito com um sistema que é pluripartidário no papel e tripartidário na prática. PT e PSDB representam dois grandes lados no país. E o PMDB um terceiro, apoiando um dos dois partidos de acordo com a conveniência do momento, do dia, da Lua e das vantagens oferecidas. Um novo partido autêntico, com militância, intelectuais, artistas, empresários, estudantes e gente de verdade faria bem ao Brasil, para uma alternativa legítima para aqueles que se cansaram do clima de final de campeonato estadual representado pelo PT e PSDB, partidos rivais, mas com cara de partidos. Marina poderia ter liderado a novidade, a alternativa...
Mas o que fez Marina não se mostrar como alternativa de confiança? Ruth Rocha já ensinou no seu clássico infantil que o "camaleão que a todos querem agradar acaba por não agradar a ninguém". Marina quis se distanciar dos inconvenientes do PT sem negar sua história de fundadora do partido. Quis a glória de ter pertencido ao PT de Chico Mendes da década de 1980 sem o peso do PT de 2005, de Zé Dirceu. O tal mensalão estourou em 2005, quando Marina Silva era ministra do PT, do Meio Ambiente. Cá entre nós, quem é o ingênuo de acreditar que Marina Silva descobriu o mensalão pelas capas da veja ou manchetes da Folha?
Pelo lado "cheiroso", Marina também quis costurar apoios à direita sem a inconveniência do lado pesado que esse setor representa. Adotou um discursinho anti-corrupção, aproximou-se de grandes empresários e grupos de mídia. Cercou-se de economistas neoliberais, liderados por Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do governo tucano de FHC. Marina quis aparecer como alternativa de confiança para a direitona nacional. Mas não se comprometeu a ponto de se parecer com eles. Sabia que o preço é alto. Poderia ter mais espaço nas capas de revistas, no Jornal Nacional e no Fantástico. Mas teria que silenciar diante dos abusos cometidos pelo país, na Amazônia em especial, por parte de grupos que sustentam esse lado "cheiroso" da mídia brasileira. Marina quis o bônus do espaço sem o ônus do alinhamento ideológico. A direita brasileira pode ter muitos defeitos. O da burrice não está entre eles. Marina não empolgou leitores de veja.
Como aquele rojão que se espera grande estrondo e falha, Marina não se sustentou em seu voo rumo à tentativa de apoio. Ironicamente, não teve nem rede de aliados competentes para convencer sobre sua proposta e nem de apoiadores que sustentassem seus projetos. Com um pouquinho de sarcasmo, faltaram à Marina justamente "rede" e "sustentabilidade"...
O Brasil perde com o naufrágio da caravela de Marina Silva. Nossas perspectivas de melhorias políticas poderiam ser melhores. A liderança de Marina poderia ter trazido alguma oxigenação ao debate nacional, mesmo entre aqueles que jamais votariam nela, caso de tantos palpiteiros por aí. Fica para outras vez. Não se cria uma liderança para projetos alternativos sem o essencial, que é justamente uma liderança.
Mas o teste de fogo de Marina será agora. Se for uma farsa, desiste e sai atirando em todo o sistema político-partidário do país. Se tiver grandeza, reconhece os erros, junta os cacos e não desiste de seu projeto. Se for pequena, irá se filiar a um partido qualquer para conseguir, por meio de outros, o que não foi capaz de ter para si: uma legenda legalizada. Marinas Silva tem uma história pessoal bonita e de passagens políticas muito interessantes. Mas os fatos são indiscutíveis: politicamente foi menor do que Gilberto Kassab e Paulinho da Força, ou ainda dou que os rotulados "pequenos partidos de extrema esquerda". Os insatisfeitos poderão vociferar à vontade contra os tais "baderneiros da USP", mas a verdade é cristalina: PSOL, PSTU e PCO são partidos legalizados perante o TSE e aptos a disputarem as eleições que o projeto Rede não conseguiu.
Enfim, o Facebook e o Twitter podem servir de válvula de escape e outras esquisitices. Mas política de verdade é outra coisa.
Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/noticia/a-lideranca-de-marina-em-xeque
|
Agenda |
Aldeia Nagô |
Capa |