A Copa é um sucesso, e ponto por Alberto Carlos Almeida |
Dando o que Falar | |||
Tuesday, 01 July 2014 04:29 | |||
Não disse isso baseado em "wishfull thinking", mas na análise de informações reais acerca de como nos comportamos nas Copas anteriores (ainda que não tivessem ocorrido no Brasil), de como o brasileiro vê o futebol e o que ele significa para nossa sociedade. Como uma vez disse Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes. A mídia se comportou como principiante quando se tratou de supor o que iria acontecer na Copa brasileira. Gerou enormes expectativas negativas em torno do evento, mas nenhuma se realizou. Bastava ter visto como fora a Copa das Confederações, quando oito seleções lotaram de torcedores vários estádios. A Copa do Mundo seria quatro vezes maior em termos de movimentação, embora espalhada por mais cidades. A mídia inteira ignorou esse fato. Mais grave ainda, os jornalistas brasileiros ignoraram que o país tem capacidade de organizar inúmeros grandes eventos. Em artigo publicado nesta coluna em 10 de janeiro, sob o título "Blatter fala e a caravana vai passando", afirmei: "A imprensa, motivada pelo complexo de vira-latas, termo de Nelson Rodrigues que imortalizou a falta de autoestima que temos, já fez um longo e competente trabalho ao plantar tais expectativas na cabeça dos brasileiros. Essa visão predominantemente negativa da população não é ruim para o governo. O motivo é simples: não haverá engarrafamentos em dias de jogos, os turistas terão onde se hospedar e haverá voos suficientes. "Não há pressão sobre a logística maior do que a provocada pelo Réveillon e pelo Carnaval. O deslocamento anual causado por ambos os eventos para cidades que serão sede de jogos, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, é maior, e sempre será, do que aquele que ocorrerá durante a Copa do Mundo. Estamos nesse período e não houve nenhuma notícia sobre engarrafamentos, falta de vagas em hotéis e de lugares em voos. Pode ser que a imprensa não dê importância a isso e seja inteiramente enviesada, isto é, problemas logísticos não são noticiados no Révellion e no Carnaval, mas o serão na Copa do Mundo. Ora, se for isso mesmo, trata-se realmente de um caso único de complexo de vira-latas e, acima de tudo, de péssimo jornalismo. Não creio nisso. O mais provável é que a expectativa negativa dos brasileiros não venha a ser realizada: os engarrafamentos não serão maiores ou menores em dias de jogos, e haverá onde se hospedar, assim como voos suficientes. "Igualmente importante é o clima criado pela Copa do Mundo. As estrelas do noticiário serão Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, dentre outros. O que a população vai querer ver no noticiário não são coisas negativas, mas sim os gols mais bonitos e os jogos mais disputados. A televisão dará mais espaço no noticiário para a chegada das seleções ao Brasil do que aos voos atrasados. O clima jornalístico e publicitário de uma Copa é avassalador quando ela é realizada fora do Brasil. Imagine-se agora, quando será no país do futebol". Em outro artigo, também nesta coluna, publicado em 24 de janeiro, sob o título "As lições de Nelson Rodrigues", escrevi: "O grande problema em que se incorre ao falar mal da organização da Copa do Mundo no Brasil é que, de acordo com pesquisa do Instituto Análise, 83% dos brasileiros torcem pela seleção, 82% dizem que assistem aos jogos do Brasil durante as Copas, 70% torcem por um time de futebol, 64% se interessam por notícias sobre futebol e 60% conversam ou fazem brincadeiras sobre futebol com parentes e amigos. A proporção dos que respondem afirmativamente a todas essas cinco perguntas é de impressionantes 51%. Ou seja, pouco mais da metade da população brasileira torce pela seleção, assiste seus jogos, têm um time de futebol, se interessam por notícia de futebol e fazem brincadeiras e conversam sobre o tema com parentes e amigos. Para bom entendedor, meia palavra basta: no Brasil, o futebol não é brincadeira". Sobre as previsões de protestos intensos durante a Copa, escrevi em 7 de fevereiro, sob o título "Copa do Mundo e protestos": "É impossível afirmar se haverá protestos ou não durante a Copa do Mundo. Muitos previram que haveria durante a Jornada Mundial da Juventude, e acabou não acontecendo. Aqueles que são contra o governo têm previsto que os protestos serão intensos. Os que apoiam o governo dizem que não haverá protestos, ou que serão mínimos. É fato que a população acredita que ocorrerão manifestações e que será uma oportunidade de pressionar os políticos a resolverem de forma mais efetiva os problemas. A população crê que a mídia internacional, na presença dos protestos, dará ampla cobertura e que isso resultará em decisões efetivas dos governos. A simples crença em um fato não o leva a acontecer. Por outro lado, no caso dos acontecimentos sociais, tal crença pode resultar em uma profecia que se autocumpre. Contra o governo, estão as expectativas da população de que ocorrerão manifestações. Está a favor o clima criado pela mídia em uma Copa do Mundo. Afinal, quem trocará assistir várias vezes ao gol mais bonito, a análise do erro do juiz, comemorar com os amigos a vitória em cada partida da seleção, quem trocará isso por acompanhar as notícias negativas acerca da organização da Copa?" Foi interessante reler isso agora, durante a Copa. Igualmente interessante foi relembrar a capa da revista alemã "Der Spiegel" com a bola da Copa, a brazuca, pegando fogo e caindo sobre o Rio de Janeiro. A matéria da revista era fortemente crítica à Copa e recheada de previsões catastróficas, nenhuma das quais se verificou. Aqui no Brasil, a matéria da "Der Spiegel" foi considerada por muitos o atestado de que a Copa seria um fracasso retumbante. Afinal, eram os alemães que estavam dizendo e, considerando-se nosso complexo de vira-latas, eles são superiores aos brasileiros. O que dizer, então, do "imagina na Copa"? "Imagina na Copa" quantos erraram o que estava previsto para acontecer. "Imagina na Copa" o sucesso que estão sendo os jogos e a receptividade aos turistas. E tome-se "imagina na Copa". Espero que não seja iniciado desde já o "imagina na Olimpíada". O sucesso da Copa tem a ver com algo que escrevi, também nesta coluna, em 8 de fevereiro do ano passado, no artigo intitulado "A Copa do Mundo será um outro Carnaval": "Mais do que nacional, a Copa do Mundo, no país do futebol, será um evento social. As pessoas se mobilizarão para acompanhar os jogos, vão economizar para pagar suas viagens rumo às cidades-sede, para ver várias seleções em suas concentrações, obter autógrafos de estrelas do futebol. Não haverá indiferença, não apenas a respeito de nossa seleção, mas acerca de todas as delegações que desembarcarão no Brasil para disputar o torneio. O motivo mais importante que impedirá o fracasso de nossa Copa do Mundo é que ela será carnavalizada. Vale repetir, a Copa é o maior evento do mundo do futebol que ocorrerá no país do Carnaval e do futebol. Ora, isso não pode ser desconsiderado. Quem ignora essa combinação não sabe o que faz o Brasil, não compreende nossas especificidades". Espero que aqueles que previram o fracasso da Copa tenham aprendido um pouco sobre o Brasil. Alberto Carlos Almeida, sociólogo, é diretor do Instituto Análise e autor de "A Cabeça do Brasileiro".
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www.twitter.com/albertocalmeida Artigo publicado originalmente http://www.valor.com.br/cultura/3595326/copa-e-um-sucesso-e-ponto#ixzz35rG72Uj0
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Last Updated on Tuesday, 01 July 2014 04:36 |
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