Infeliz Natal, péssimas festas, um 2017 pior ainda, por Rui Daher |
Dando o que Falar | |||
Sunday, 25 December 2016 03:19 | |||
Prometi-lhes pagar em 2017, assim que reformar as cortinas da Redação. Não foi possível precisar o mês. Cacete, amigos. Nem era para estar aqui, tão mordido pelos pernilongos, que o Fernando não matou, mas que o Dória, conforme me asseguram o fará. Desde que eu mude para Interlagos. Depois da visita que fiz a um banco chinês, recentemente instalado em São Paulo, a recepção que tive de um dos seus diretores, as obras de arte lá afixadas, histórias que ouvi sobre o Antigo Império do Meio, aumentou a minha certeza de que deveríamos estar lendo, estudando, um pouco mais que fosse, sobre o capitalismo que virá por aí. Temer, Serra e Meirelles dele nem desconfiam. Nem precisam, empanturradas suas panças e bancas por várias gerações. Um bom início seria ouvir e ler com atenção o que vem dizendo o diplomata brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães, além de economistas, sociólogos, historiadores e colunistas sérios e antenados de publicações internacionais. Como exemplo, sugiro Larry Elliott, do The Guardian, “E se Keynes revivesse”, na edição de 21/12 de CartaCapital. Antes de começar a escrever este texto, dei uma olhada no Jornal de Todos os Brasis e percebi que o momento institucional e econômico nos remete a um enorme umbigo, não importa se estufadinho ou fundinho. Está aí um determinismo histórico que nunca nos foi dado decidir. Nosso processo de cicatrização, origem dos formatos umbilicais, é lento e gradual, a não ser os dos herdeiros de donos de capitanias hereditárias. Pensam que apenas hoje em dia aturamos ministros safados, iscafes malandros, índios da Força Sindical, tributaristas malufistas no Trabalho, skinheads na Justiça, Padilhas beócios, que não o personagem genial de Jô Soares, Malafaias, Sérgio “Dorian Gray” Moro, OAS, Odebrecht, PEC 55 – peques e assassines -, e que tais. Sim, muito tem-se questionando esses párias, pouco diante da desfaçatez golpista e inocente ao não se olhar por uma história que se repete, se repete, se repete, e mais não vou, pois cansativo seria, mas, o pior: continuará a ser. Não critico ser assim. Eu mesmo, infantilmente, vez ou outra, garro a AK-47 para espalhar bosta espinafrada na situação ou algum de seus atores. Este o Brasil de hoje, onde a Casa-Grande mais uma vez subjugou a Senzala – ambas iniciando em maiúsculas, sim. Nomes próprios de quem vence ou perde. Lembro-me de Paulo Francis, um dia, reclamando que a nossa arte só tratava da pobreza. Não sabia contar histórias da elite. Hoje sabe, à exclusividade. Quando Luiz Sérgio Person (1936-1976) dirigiu o excelente “São Paulo Sociedade Anônima”, o filme foi considerado de esquerda, embora retratasse a alma da elite brasileira. Neste ano de 2016 que se vai não fizemos mais, esquerda, direita e matizes, do que continuar aprofundando a desigualdade social do País. Períodos diferentes, sempre foram curtos, incipientes e insuficientes. Hidras com cabecinhas do tamanho de alfinetes para a mira do para-belo de Antônio das Mortes, conforme criado por Glauber. Nada fizemos, como agora não o faremos, e nem o farão as gerações seguintes. O Acordo para a Desigualdade é massa! Forte, vai desde a economia rentista, com a destruição dos setores produtivos, até a homogeneização da cultura, a resistirem nichos Racionais, negros, feministas, ambientalistas, poucos mais. Não acreditem na força da internet e suas redes digitais. Miscigenaram-se ao ponto de caminharem para a polarização que, ao cabo, reproduzirá a mesma supremacia que já existe na desigualdade de classes. Quanto ao título, não me desejem o mesmo em dobro. Já os tenho.
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