Temer na TV foi o Temer no Governo: um desastre. Por Fernando Brito |
Dando o que Falar | |||
Sunday, 25 December 2016 03:24 | |||
Temer foi o que sempre é, quando fala: frio, inconvincente, desdenhoso. Aliás, o texto que lhe prepararam só o ajudou a ser como é. Troca a oportunidade de pedir licença para falar na noite de Natal, não se refere ao fato de as pessoas estarem reunidas em confraternização, não se coloca como parte neste encontro. Troca-o por dizer o óbvio (“dirijo-me a você nesta noite de Natal para transmitir mensagem”) e o formal (“de renovada esperança”). Melhor que isso só aquele “sirvo-me destas mal-traçadas linhas”. Do ponto de vista objetivo, começa a fala dizendo que “a inflação caiu e voltou a ficar dentro da meta, o que vai colocar um freio na carestia que você sente no supermercado”. Errado, Temer, é no supermercado o único lugar onde as pessoas sentem uma certa “aliviada” da inflação, pela relativa estabilidade dos preços dos alimentos e bebidas. Mas é um momento péssimo para falar em queda da inflação, quando o cidadão de classe média se prepara para um janeiro de contas: IPTU, matrícula escolar, conta de luz (pelo consumo aumentado) e por tudo o que muda de preço com a mudança de ano, que os economistas do meu tempo chamavam de “inflação gregoriana”, por causa do calendário. Aliás, do meu tempo também a a tal “carestia” que Temer usa. Até eu, que sou do tempo do “ronca”, estranhei. Depois vem um enxurrada de “obras” que estão – algumas, para a sorte dele – distantes da vida das pessoas, ainda: o corte dos gastos, a reforma do ensino médio, a nova lei de estatais. E de coisas das quais as pessoas percebem na realidade, o inverso: o desemprego irá recuar e “os juros estão caindo e cairão ainda mais”. E um otimismo de fé: “o próximo Natal será muito melhor que este”, único momento em que ele – implicitamente – reconhece que este é um desastre. Mas televisão não é só texto, é imagem. E na imagem, Temer consegue a proeza de revelar-se nos gestos que acompanham a sua fala. O primeiro, ainda que sem levantá-la, a mão com o dedo em riste. A segunda, as “espanadas” de mão, num gesto de desdém. Pode parecer bobagem, mas compõem o entendimento do que se diz com autoritarismo e desprezo, traindo o que ele tem, mas tenta esconder. Por último, como não poderia faltar, a abjeção da “carona” na morte de D. Paulo Evaristo Arns, com uma musiquinha triste ao fundo, é a régua para medir a pequenez de um presidente que sequer teve o ato de lhe prestar uma homenagem póstuma, com medo de vaias. Até mesmo na despedida, ao final da fala, Temer não se aproxima das pessoas e do momento em que o ouvem. Diz “muito obrigado a todos” e um imbecil “boa noite, Brasil”. Talvez uma sinceridade inesperada: um “feliz Natal”, nem pensar. Sabem por que? Porque Temer falou não para o povo, mas para seu ego, para mostrar que é capaz de “aparecer em público”. É. Quando ninguém está prestando atenção nele. PS. Se o estômago e o fígado estiverem bem, o vídeo da fala está abaixo
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