A questão crucial da crise brasileira não encontrará saída no remendo eleitoral que a imprensa chama de "reforma política", na verdade um conjunto de casuísmos cujo objetivo é assegurar que nada mude, ou seja, que os de cima permaneçam mandando contra os interesses dos de baixo.
As vaias a Renan Calheiros durante a passagem da caravana de Luiz Inácio Lula da Silva por Alagoas confirmam uma verdade fácil de reconhecer. Mostram que, embora Lula seja o líder nas pesquisas presidenciais para 2018, é um caso de ingenuidade primária mirar as vitórias do passado para pensar estratégias para o futuro.
Ontem foi o dia do espanto. Os senadores da oposição discursavam contra a privatização da Eletrobrás e a entrega de uma enorme reserva ambiental na Amazônia à predação mineral quando começaram a ser bombardeados por informações sobre a extensão da grande liquidação do Brasil que o governo de Michel Temer acabava de anunciar à
Não podemos ser condescendentes com o MBL nem deixar de dizer o que ele é. O objetivo dos seus integrantes não é apenas ganhar muito dinheiro defendendo e atacando políticos nas redes sociais em todo o país, tais como Aécio Neves, João Dória e Bolsonaro, mas também disseminar uma ideologia de extrema-direita entre a juventude
A mídia faz como se não acontecesse nada de importante no Nordeste. Haveria apenas as viagens do ex-presidente Lula e do prefeito João Doria à região, quase equiparados no mesmo nível.
O desembargador João Pedro Gebran Neto, que manteve a decisão que bloqueou os bens do ex-presidente Lula, dividirá com Sérgio Moro a atenção durante o X Congresso Anual da Associação Nacional de Direito e Economia (ABDE), que se realizará nos dias 21 e 22 de setembro.
O único ministro do STF que enfrenta a anarquia jurídica criada pela Operação Lava Jato, com suas violações constitucionais e atropelos ao devido processo legal, gostemos ou não, é Gilmar Mendes.
A caravana de Lula no Nordeste ganhou um componente adicional de defesa da democracia diante da armação explícita no TRF 4. O processo do triplex está sendo julgado em tempo recorde. A ideia é inviabilizar a candidatura na base da “excepcionalidade” — exceção é mais exato.
A última delas era Lula ao lado de Renata Campos e de Paulo Câmara. Em outra, o pastor e deputado Marco Feliciano celebrava a violência extremada que uma professora sofreu por parte de um aluno que a socou por várias vezes. Marco Feliciano descobriu que a professora era de esquerda e que havia festejado um ovo que havia sido jogado em Bolsonaro.
Na lógica que move a destruição da Floresta Amazônica, ainda é raro encontrar histórias de transformação como a de Roberto Brito de Mendonça, de 43 anos. Foram necessários 100 anos para que se rompesse – por suas mãos – uma vocação que parecia natural na família: o desmatamento ilegal.
A comunidade onde ele vive está dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Negro, no Amazonas, criada em 2008 para preservar a mata e o modo de vida das populações tradicionais. Com 103 mil hectares e 693 famílias espalhadas por 19 vilarejos, a unidade de conservação, no entanto, não está livre do risco.
“Hoje já temos a pressão de grandes fazendeiros migrando dos estados do Pará e Rondônia para o Amazonas, com grandes empresários fazendo investimentos”, afirma Renê Luis de Oliveira, coordenador-geral de fiscalização ambiental do Ibama.
Em toda a Amazônia Legal, a sistemática do desmatamento segue um roteiro conhecido pelos fiscais: o invasor derruba a floresta em terra pública, vende madeira para se capitalizar, planta capim e coloca o gado. Mais tarde, as terras de interesse da agricultura dão lugar ao cultivo de soja, arroz e milho.
O método “boivigia”
Em sobrevoos de fiscalização, é possível avistar áreas desmatadas sem qualquer construção –apenas os bois vigiam o terreno. “Os grileiros invadem esperando, um dia, a regularização fundiária de uma terra que é pública”, afirma Oliveira.
O rebanho bovino na Amazônia Legal saltou de 37 milhões de cabeças em 1995, o que era equivalente a 23% do total nacional, para 85 milhões em 2016 – cerca de 40%. “A pecuária para a criação de gado é a atividade que mais contribui para o desmatamento na Amazônia, ocupando 65% da área desmatada”, afirma o estudo recente do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
Marlene Alves da Costa, uma das lideranças comunitárias na RDS Rio Negro, já precisou barrar invasores que queriam trazer gado para as terras. “Gado aqui é proibido. O que ainda acontece é o roubo de madeira. Cortam de dia, escondido, e levam embora à noite. Mas nós denunciamos”, conta.
Os moradores tradicionais de Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Rondônia, não conseguiram o mesmo. Segundo o Ibama, trata-se de uma unidade de conservação mais desmatada do estado. “Fazendeiros tomaram conta. São mais de 50 mil cabeças de gado na reserva”, relata Oliveira.
As áreas ocupadas por populações tradicionais, extrativistas, não barram os invasores. “É comum a gente verificar aliciamento desses povos dentro das reservas extrativistas e de uso sustentável. Eles acabam vendendo sua terra e, muitas vezes, são até afugentados pelos grandes proprietários”, relata Oliveira. “É muito complexo”.
Alvo fácil para grileiros
As florestas públicas sem destinação são o alvo mais fácil para os grileiros e seus bois. “São 60 milhões de hectares de florestas não destinadas na Amazônia. São terras públicas que estão à mercê da grilagem”, afirma Cristiane Mazzetti, especialista em Desmatamento Zero do Greenpeace. O tamanho da área em questão equivale a quase o dobro do território da Alemanha.
“Os povos da floresta são fundamentais para a conservação. Qualquer planejamento tem que levar em consideração as populações tradicionais, os indígenas, garantir o direito à terra e atividades econômicas que mantenham a floresta em pé”, diz Mazzetti a favor do aumento das unidades de conservação.
A pecuária não entraria nesta lista. O controle dessa atividade, inclusive, virou prioridade para coibir a destruição do ecossistema. Em mais de um ano de investigação, o Ibama multou 14 frigoríficos que compraram produtos vindos de áreas desmatadas ilegalmente ou embargadas.
Mazzetti destaca ainda o peso da política: “É fundamental que o governo não aprove medidas que sigam na direção contrária. E o que a gente vê é o contrário: propostas discutidas no Congresso que dão a expectativa de redução de unidades de conservação, ou desafetação, o que acaba contribuindo com a invasão dessas áreas.”
Após a aprovação da chamada MP da Grilagem (MP 759/16), tramita no Congresso o projeto que reduz a proteção na Floresta Nacional do Jamanxim, Pará. Na última quarta-feira, o governo federal publicou um decreto que extingue a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), na Amazônia. A reserva, criada em 1984, possui cerca de 47 mil quilômetros quadrados.
Desmatamento e vocação
Embora o balanço divulgado pelo Imazon tenha apontado queda de 21% do desmatamento entre agosto de 2016 e julho de 2017, a situação não é de alívio. “A gente ainda está em 2017 muito aquém de onde deveríamos estar para dizer: ‘Estamos no rumo da eliminação do desmatamento e de cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris'”, comenta Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Para ele, Brasília erra ao mandar o seguinte recado: “Com a anistia do Código Florestal, da grilagem, de invasão de áreas protegidas, retirada de direitos de povos indígenas, flexibilização de leis ambientais, eles mostram que o crime florestal compensa.”
Rittl dirige a crítica ao governo Temer e às concessões à bancada ruralista. “O chefe da bancada, inclusive, se esquece que a agricultura, que ele em tese defende, depende de água, que depende de floresta. Então preservar floresta nada mais é que assegurar um serviço ambiental para a produção agrícola nacional”, comenta, sobre a entrevista concedida pelo deputado e chefe da bancada ruralista Nilson Leitão à DW Brasil. “Ele demonstrou ter uma visão muito míope sobre o papel das florestas.”
Das margens do rio Negro, Roberto acompanha preocupado esses embates. O ex-desmatador, agora empreendedor, espera que nada atrapalhe sua nova vocação. Para ele, é a falta de conhecimento que atiça o instinto de destruição. “Passamos 100 anos para descobrir que a floresta tem valor”, menciona, lembrando a história de sua família. “O meu sonho é que as pessoas locais tenham a mesma oportunidade. Porque é através das pessoas locais que a preservação vai começar.”